Crítica
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Sinopse
Em 1952, Evita Péron, a Primeira-Dama da Argentina, morre de câncer, aos 33 anos de idade e seu corpo é embalsamado. Três anos depois, o presidente Juan Perón sofre um golpe de estado e o corpo de Evita é enviado para a Europa, com o intuito de apagar o legado dela da memória popular. Seu corpo então vira o centro de um confronto de poder que dura vinte e cinco anos.
Crítica
A figura que emerge das sombras, tonando-se gradativamente mais nítida num cenário quase expressionista – em virtude do chiaroscuro –, é o almirante Emilio Eduardo Massera (Gael García Bernal), antiperonista, partícipe do golpe de 1955 que destituiu Juan Domingo Perón da presidência. Ele também foi um dos conspiradores que apunhalaram impiedosamente o governo legítimo de María Estela Martínez de Perón, em 24 de março de 1976. É esse personagem importante da História argentina que o cineasta Pablo Agüero escolhe para ser o narrador de Eva Não Dorme, filme debruçado sobre as intrigas políticas em torno do desaparecimento do corpo de Eva Perón, morta aos 33 anos, vítima de um câncer. O personagem de Bernal, aliás, demonstra todo o seu escárnio pela mulher considerada a “defensora dos humildes”, desqualificando ferozmente a gente modesta por ela acalentada durante a vida, imediatamente atraindo para si a nossa antipatia, pois claramente sectário.
Os “descamisados” protegidos por Evita formavam o estrato mais simples e desvalido da sociedade argentina. Eram pessoas desprovidas de recursos, que tiveram na primeira-dama uma representante combativa, instalada na alta esfera do poder. Eva Não Dorme possui uma estrutura narrativa que cruza dimensões aparentemente dissonantes. Aliás, tal interseção se torna a substância de sua potência. A cenografia das passagens que expõem o envolvimento civil e militar no caso abordado é evidentemente alusiva à teatral, com cenários abertamente falsos, então contrastados pela realidade. Imagens de arquivos entrecortam constantemente a fabulação. A instância puramente ficcional da encenação se fundamenta na expressão corporal dos atores, mais especificamente nos semblantes sobrecarregados. O resultado dessa equação é uma ampliação do âmbito dramático, que sobrepuja até o seu equivalente político, sem, contudo, prejudica-lo. A prioridade é deflagrar as emoções/reações humanas contidas nas ocorrências.
O longa-metragem é dividido em capítulos. No primeiro, a liturgia mortuária do embalsamento de Evita. Imanol Arias interpreta o especialista encarregado de preparar o corpo da ex-primeira-dama para a eternidade. Ailín Salas, na pele da responsável pela limpeza do local, simboliza o povo humilde, tão amparado pela mulher que jaz por conta da doença. No seguinte, o grande Denis Lavant, com suas fisionomia e voz austeras, dá vida ao militar francês cuja missão é transportar em segredo o “pacote” valioso, destinado a ser extraditado do país, afinal de contas, ainda que morta, Evita é um símbolo intenso de insurreição, e, portanto, empecilho aos milicos. Logo depois, esse painel condensado de personagens relevantes para o episódio do sequestro macabro e, por conseguinte, ao desenho da situação político-social convulsionada da Argentina, é enriquecido em virtude da reconstituição do interrogatório do ditador Aramburu (Daniel Fanego) pela guerrilha Motoneros, que arguiu duramente o general.
Eva Não Dorme se vale de um conjunto de procedimentos que atribui à imagem, bem como ao rosto dos atores, a função de sintonizar os eventos esmiuçados. Pablo Agüero exuma metaforicamente os cadáveres da História argentina, tomando como modelo o imbróglio verídico ao redor de Evita, para mostrar, inclusive, a permanência dos mitos. Além desse elogio constante à administração peronista e à importância dos opositores nos anos de chumbo financiados por interesses econômicos internacionais, o cineasta alude ao caráter cíclico dos golpes, sobretudo dos desferidos contra a integridade das democracias. Ele resgata as circunstâncias que permitem, por exemplo, aos algozes o sepultamento dos produtos de sua própria barbárie, ocasiões em que assumem publicamente discursos falsamente progressistas, infelizmente, antecessores de novas repressões. Mesmo totalmente inerte, o corpo de Evita, utilizado na telona praticamente como Mcguffin, provoca a erupção violenta dos poderes nefastos desse período.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 8 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 7 |
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