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Sinopse

Em 1981, o ator britânico Peter Turner recebeu uma ligação inesperada, revelando que a atriz Gloria Grahame passou mal em um hotel. Como ela se nega a ser atendida pelos médicos, não há outra saída a não ser levá-la para a humilde casa do ator, na cidade de Liverpool. Ali, enquanto cuida dela, ele relembra os momentos mágicos que os uniram por anos e também os motivos que os levaram à separação.

Crítica

Antes da história de amor surgir, há o prólogo. Nele, uma bonita homenagem ao cinema, que o realizador Paul McGuigan estende a todo Estrelas de Cinema Nunca Morrem. A cena da atriz no camarim, lançando mão da maquiagem e de toda sorte de expedientes para construir externamente a personagem, é banhada por uma luz completa e deliberadamente postiça, do que decorre o clima onírico, próprio às figuras eternizadas em película. A Sétima Arte, especialmente aquela que emana de Hollywood, sua fábrica mais profícua e simbólica, é feita de sonho. Constitui um espaço lúdico em que homens e mulheres extrapolam sua humanidade para se tonar símbolos, imagens idealizadas e posteriormente projetadas na telona a fim de nos entreter ou aproximar da verdade, ainda que de maneira insuspeita. E isso tudo está implícito nessa simples passagem, finda justamente com um dado que rompe o viés lúdico, jogando-nos diretamente na crueza de uma realidade impossível de ser reescrita, refilmada ou remontada.

A protagonista de Estrelas de Cinema Nunca Morrem, produção baseada em fatos, é Gloria Grahame (Annette Bening), vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1953 por Assim Estava Escrito (1952), lembrada por encarnar mulheres sensuais e provocantes. Uma vez exposta a fragilidade de sua saúde, bem antes da entrada no palco inglês, os holofotes se voltam ao ex-namorado Peter (Jamie Bell), jovem aspirante a ator, com quem viveu romance inesquecível num passado não tão distante. Não nos é oferecida a íntegra desse contexto de mão beijada, como conviria a um filme ordinário. As informações são liberadas aos poucos, em meio a um trajeto cronologicamente bem delineado, feito de idas e vindas temporais. As viradas são deflagradas pelos devaneios do personagem de Bell, chaves que nos oferecem ingresso aos flashbacks. A montagem, inteligentemente, propicia a singularidade da transição entre passado e presente, reforçando o elogio aos métodos cinematográficos.

Essa celebração ocorre, também, em outros domínios. Exatamente por se tratar de uma trama calcada em pessoas e eventos verídicos do meio, Estrelas de Cinema Nunca Morrem menciona repetidas vezes ícones como Humphrey Bogart, com quem Gloria contracenou no filme No Silêncio da Noite (1950), dirigido por Nicholas Ray, emblema igualmente citado, pois, além de tudo, era ex-marido da atriz e pai de um de seus quatro filhos. Ainda há alusão à Marilyn Monroe, a "loira que teve um caso com o presidente". Quando a trama se desloca a Los Angeles, terra hollywoodiana por excelência, Paul McGuigan acentua o artificial, então deflagrado por fundos obviamente inseridos em pós-produção e pela luminosidade alinhada às necessidades clássicas da telona. Até na discussão banal, travada no beco atrás do restaurante nova-iorquino frequentado por astros, a fotografia se emprenha em criar essa atmosfera lúdica, evocando a aura cinematográfica. Não bastasse isso, ainda há a participação mais que especial de Vanessa Redgrave, como a mãe de Gloria.

Porém, Estrelas de Cinema Nunca Morrem não é um êxito, além de muito bonito, apenas por conta das habilidades diretivas, pois sobressai o trabalho do elenco. Annette Bening está (de novo) absolutamente comovente na pele dessa estrela que vê o próprio brilho se esvair em virtude do câncer agressivo. Jamie Bell é não menos competente ao encarnar o rapaz genuinamente apaixonado pela Gloria cotidiana, mesmo que lhe preste frequentemente tributo como diva. Julie Walters e Kenneth Cranham, intérpretes dos pais de Peter, aproveitam cada momento disponível para dignificar os progenitores, conferindo pujança aos laços familiares. Determinados instantes são emocionalmente lancinantes, como a surpresa que o jovem apaixonado faz à sua amada combalida pela doença. São amores críveis, com substância dramática, tanto o de Gloria por Peter, e vice-versa, quanto o do realizador pelo cinema, esse simulacro fascinante, ao qual, embora impossível vencer a morte, é facultado preservar imagens e, de certa forma, manter viva a magnitude dos grandes ídolos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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