Crítica


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Sinopse

Uma atriz, desgastada pela utilização desumana de sua imagem, suicida-se. Uma dubladora é chamada para substituir sua voz. É sua grande chance para entrar no mundo do cinema. Pelo mundo paralelo dessas duas mulheres, um em ascensão, outro em declínio, revelam-se as relações de amor do artista com sua obra e do ator com seus personagens.

Crítica

Manifesto político e metalinguístico disfarçado de filme com cunho erótico, Estrela Nua, de Ícaro Martins e José Antônio Garcia, conta uma história curiosa envolvendo o cinema. Gloria é vivida por Carla Camurati, uma bela atriz contratada para substituir a voz de Ângela (Cristina Aché) na redublagem do filme que esta gravara. O motivo do convite ocorre graças a misteriosa morte da antiga atriz.

O roteiro é repleto da canastrice típica das pornochanchadas, tanto nos diálogos quanto nas ofensas sexuais. O modo como Ismael (Ricardo Petráglia) conduz as atrizes em cena e em estúdio é violento e preconceituoso, emulando de maneira bem fiel a época conservadora típica dos anos oitenta. A linha temporal varia entre a exibição do filme de Ismael e os trabalhos para finalizá-lo. Glorinha passa a tentar refazer os passos de sua antecessora, se deixando levar pelas mesmas obsessões e manias da antiga intérprete e do papel.

Apesar das comuns visões negativas a respeito de gênero por parte da crítica de cinema especializada, Estrela Nua consegue tecer um comentário inteligente e emocional. A loucura em que Gloria se insere evoca um cinema profundo e psiquiátrico, misturando o anseio pelo sucesso com troca de identidade. Até no espelho Gloria enxerga o reflexo da outra atriz, em mais uma demonstração óbvia do quão sem norte está sua psique.

O filme tenciona falar poeticamente em todos os seus signos, usando a nudez de Camurati e de Aché para chamar a atenção não só pelo erotismo evidente e óbvio, mas também para mostrar que ambas estão no mesmo estágio espiritual terrível, como se no filme, ou no tal papel, morasse uma maldição, que fazia Gloria se transferir para outro tipo de vivência.

A polêmica cena em que ela enrola pelos pubianos em seda e fuma é tão carregada de mistério quanto a última das cenas enquadradas pela câmera. Ambas flagram uma necessidade de não existir que dialoga com a pecha freudiana de que ao homem cabe não só o viver, mas também o desejo da morte e consequentemente de tentar driblá-la. O clima de Estrela Nua é bem mais pesado que o visto em Onda Nova (1983), filme anterior de Martis e Garcia, mas é igualmente inspirado em sua proposta, sobrando inventividade.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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