Crítica


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Sinopse

Um candidato à presidência da Bolívia contrata consultores norte-americanos para reverter sua situação negativa nas pequisas. À frente desse time, uma calejada estrategista tentando apagar um escândalo que a fez aposentar-se.

Crítica

Dirigido por Rachel Boynton, o documentário Our Brand is Crisis (2005) ganhou notoriedade por expor os bastidores da controversa campanha que contribuiu para que Gonzalo Sánchez de Lozada se tornasse presidente da Bolívia em 2002, quando seu rival Evo Morales era o favorito ao cargo. Impressionante, a produção norte-americana revela as táticas de propaganda política adotadas pela empresa Greenberg Carville Shrum, contratada por Lozada, que se valiam do medo da população boliviana como um de seus principais componentes. Eis que, uma década depois, esta tensa narrativa é recontada aos tropeços no irresponsável Especialista em Crise.

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Jane “Calamidade” Bodine (Sandra Bullock) é uma estrategista política que, para se livrar de apelido e reputação profissional infames, decide se aposentar precocemente. Sem motivação aparente, no entanto, ela é convencida a retornar ao ofício para liderar a campanha de Pedro Castillo (o português Joaquim de Almeida), candidato à presidência da Bolívia que amarga um quinto lugar nas pesquisas populares de intenção de voto. Ao lado de uma equipe destituída de muitos escrúpulos, ela trama peripécias para reverter esta situação enquanto dribla as eventuais investidas de seu antigo antagonista Pat Candy (Billy Bob Thornton).

Com direção de David Gordon Green, que vai do escracho de Segurando as Pontas (2008) ao intimista Joe (2013) em poucos projetos, Especialista em Crise (2015) polariza essas duas vertentes do cineasta num enredo que não se resolve como comédia satírica ou drama político, apostando numa estranha mistura de ambos que tenta se redimir com uma conclusão redentora – que só piora a coisa toda. Ora o filme segue o coadjuvante pobre em sua comunidade carente, ora passeia entre os colombianos nativos e suas culturas, mas na maior parte do tempo o destaque é para o núcleo branco, rico e empoderado – quase como nas famigeradas novelas das nove. O destaque à língua espanhola é curioso no início do longa, mas logo temos dois personagens locais, num diálogo trocado apenas entre ambos, falando exclusivamente em inglês. Já vimos este filme antes.

Produzida por George Clooney, a “dramédia” flerta com a atmosfera séria e de denúncia que marca outras produções de alguma forma assinadas pelo ator e diretor, como Conduta de Risco (2007) e Tudo Pelo Poder (2011). Este subtexto, infelizmente, acaba prejudicado com o desequilíbrio do roteiro de Peter Straughan e na própria direção de Green, que exagera nas gags e principalmente no rumo que dão para uma protagonista sem motivação definida ou crível. Pensar que Jane retorna a um meio que a traumatizou e a deixou com sérias sequelas psicológicas apenas pelo desafio, assim como pela chance de resolver uma disputa pessoal com o rival Pat Candy, enfraquece a personagem ainda mais. Clooney, originalmente cotado para o papel, deixou o barco quando Bullock demonstrou interesse no projeto e o desafiou a transformar a narrativa para uma protagonista mulher. Mudança interessante e louvável para uma indústria ainda sexista e dominada por homens, tal protagonismo feminino é mal aproveitado e, infelizmente, quase só aparece em momentos inadequados, como quando Jane se vale de seu sutiã como estilingue para atacar seu inimigo.

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Sem inspirar muitas reflexões, Especialista em Crise termina como alternativa para quem tem interesse no tema, mas prefere desviar da seriedade do já citado documentário sobre o mesmo assunto. Sandra Bullock, que deveria ser o grande destaque na produção, passa pelo filme sem dizer exatamente a que veio – assim como sua personagem – e ainda merece a vergonha de algumas sequências constrangedoras. Em uma delas, Jane comanda uma perseguição entre dois ônibus que só tem razão de existir como uma homenagem para Velocidade Máxima (1994) – e nem assim parece funcionar. No fim das contas, durante a sessão é possível aprender algumas táticas de lobby e, assim, as faço valer indicando ao pretenso espectador que, na dúvida, vote no documentário em detrimento à ficção.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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Conrado Heoli
5
Chico Fireman
5
MÉDIA
5

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