Crítica
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Sinopse
François é professor numa escola da periferia de Paris. Ele tem de enfrentar diariamente questões problemáticas, violência e tensões étnicas entre os alunos, isso tudo para manter seu ideal como educador.
Crítica
Filmes em ambiente escolar, com professores iluminados que mudam para sempre a vida dos seus alunos rebeldes, são mais do que um subgênero, e sim um clichê à parte! Mas é claro que volta e meia aparecem alguns que se destacam da multidão, como Sociedade dos Poetas Mortos (1989), Escola do Rock (2003) e este Entre os Muros da Escola, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Sem esquecer que esta produção francesa foi também indicada ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e ao European Film Award (o Oscar europeu) de Melhor Filme e Direção, além de ter ganho o César (o Oscar francês) de Melhor Roteiro Adaptado e o Independent Spirit Award (a premiação do cinema independente norte-americano) de Melhor Longa em Língua Estrangeira. Créditos mais do que suficientes para vencer qualquer ‘pré-conceito’, não é mesmo? E, ao término da projeção, a primeira coisa que se percebe é que a decisão de assistir a este impressionante trabalho não poderia ser mais acertada.
Entre os Muros da Escola é baseado num romance escrito por François Bégaudeau, que por sinal interpreta o protagonista da história. Ele é um professor de francês numa instituição pública de ensino médio. E, com extremo cuidado, atenção aos detalhes e diálogos muito bem construídos, o que vamos aos poucos nos dando conta é de que são os alunos que irão mudar a vida do mestre, e não o contrário. A sala de aula que passamos a frequentar é um verdadeiro caldeirão de diferenças étnicas, sociais, raciais e econômicas, que está sempre em constante estado de ebulição, prestes a explodir. Não é uma turma normal – no sentido em que estamos acostumados a imaginar, com patricinhas, atletas-galãs, nerds de óculos e os estranhos do fim da sala, tão bem divulgada por Hollywood. Muito pelo contrário, o que vemos é um caleidoscópio completamente próximo da realidade, e talvez por isso mesmo tão chocante.
A impressão obviamente sugerida – e reforçada por outros artifícios, como a fotografia intrusiva, a edição reflexiva e bastante discreta, além de ausência de reforços mais evidentes e artificiais, como trilha sonora e maquiagem – é a de que estamos diante de um documentário. Tudo é tão real, tão verdadeiro, que parece ser impossível se tratar de uma obra de ficção. E esta falsa autenticidade, sem querer proferir moralismos ou transmitir grandes mensagens, mas apenas convidar o espectador a refletir junto com os personagens e buscar entender os dois lados de cada drama apresentado, é o seu maior mérito. Entre os Muros da Escola é mais do que uma aula de cinema – é uma lição de vida.
Dirigido com bastante competência por Laurent Cantet, e impressionante sucesso de público da França, onde foi visto por mais de 2 milhões de pessoas, este longa é daqueles que nos acompanham depois que as luzes se acendem. A identificação é imediata, e nos pegamos questionando o que faríamos no lugar dele ou dela. Incita a discussão, promove uma análise mais profunda e só melhora a cada nova reflexão a respeito. Tendo uma sala de aula como reflexo do mundo, em que todos falam ao mesmo tempo enquanto ninguém se comunica, como numa imensa e confusa Torre de Babel, mostra definitivamente o quão pequenos e limitados somos quando reduzidos aos nossos instintos mais primitivos e vergonhosos, como autodefesa, inveja e ignorância. Mas, ao mesmo tempo, ao lado desses poderão surgir a compreensão, a solidariedade e o altruísmo, evidenciando que, de perto, ninguém é de todo mal ou bom. Somos apenas humanos. E precisamos, de uma vez por todas, aprender a lidar com isso.
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