Crítica


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Sinopse

O jovem Felix Vorndran estuda em uma escola cuja diretora, Frau Dr. Schmitt-Gössenwein, é uma verdadeira megera. Certo dia, determinado a se vingar desta professora, Felix arma um esquema maluco que tem consequências complicadas: a diretora acaba encolhendo, se tornando uma miniatura de si mesma.

Crítica

Um dos grandes sucessos do cinema alemão recente, Encolhi a Professora conta a história de Felix, um menino que, após sua mãe se mudar para os Estados Unidos por conta de uma proposta profissional, fica com o pai na Europa. Ao ser matriculado em uma nova escola, logo descobre que o lugar está sob a mira de investidores, e corre o sério risco de fechar as portas em um curto espaço de tempo. Só que ele se dá conta também que o lugar é assombrado pelo espírito do antigo fundador do colégio, que fez de tudo para preservar o local e sua visão de estudo para as gerações futuras, inclusive deixando armadilhas preparadas e até um tesouro escondido. Assim, caberá ao recém-chegado e aos seus novos amigos descobrir as pistas deixadas para trás e não apenas salvar o colégio, mas também colocá-lo de novo nos trilhos imaginados pelo homem que deu origem a tudo aquilo.

E se você está um pouco ligado, percebeu uma leve falta de sintonia entre o título do filme e sua sinopse. Sim, e este é um dos principais problemas do longa. Há, de fato, uma pessoa que é ‘encolhida’ até ficar com 12 centímetros de altura. Só que este fato, primeiro, não possui relevância alguma na trama. Segundo, não é uma professora que ganha proporções diminutas, e, sim, a diretora. E, terceiro, as crianças não são responsáveis pela transformação: o efeito é causado pela magia que toma conta de todo o ambiente escolar. Ninguém é responsável pelo encolhimento, ela não é professora e tal episódio pouca influência tem no desenrolar dos acontecimentos. Gratuito, é o mínimo a ser dito.

Mas nada é ruim o suficiente que não possa piorar. E, nesse sentido, basta prestar um pouco de atenção aos desempenhos dos atores. Oskar Keymer, o protagonista, não podia ser mais inexpressivo – ele passa, literalmente, o filme todo com a mesma reação no rosto, seja para demonstrar surpresa, frustração, felicidade ou contrariedade. Seus colegas – uma menina metida a esperta e um riquinho e seus asseclas abrutalhados – pouco conseguem ir além dos estereótipos que lhes são designados. As relações que se desenvolvem entre eles são tão previsíveis quanto insossas, gerando pouca emoção a cada nova interação. Chega-se ao ponto de, quando ela descobre que a diretora está em miniatura, apenas exclamar: “veja, olha o tamanho dela”, e seguir sorrindo como se nada de extraordinário tivesse acontecido.

E por quê, afinal, a diretora passa por essa provação? Em resumo, porque esqueceu dos velhos valores da escola, criando um ambiente tão rígido e enfadonho que as crianças teriam perdido o prazer de aprender e se divertir. Há uma lição, das mais óbvias e conservadoras, a ser transmitida. Nesse ponto o espectador também sofre frente à opaca atuação dos adultos. Anja Kling, como Schmitt, a diminuta, passa o filme inteiro com uma vozinha insuportável – cortesia da dublagem nacional – e um comportamento tão infantil quanto idiotizado, como se não se desse conta da sua nova realidade. Só que também é desprezada a percepção da audiência: ao encolher, a impressão que se tem é que a mulher se tornou invisível, pois ninguém a vê – e se uma boneca Barbie começasse a andar por conta própria junto aos brinquedos de uma criança, é fácil imaginar que qualquer pessoa por perto veria rapidamente a novidade.

A despeito de tantos problemas, facilmente identificáveis para um espectador dotado de um viés mais crítico, Encolhi a Professora se esforça para soar como uma aventura feita nos anos 1980, aos moldes de Os Goonies (1985) e tantas outras similares, que, bem ou mal, parece ser capaz de entreter o público a que se dirige. É de se lamentar, no entanto, que a própria distribuidora brasileira tenha se esforçado para esconder o filme por aqui, se negando a fazer exibições para a imprensa ou pré-estreias públicas antecipadas, além de só apresentá-lo em cópias dubladas, sem o áudio original. E com um mercado voraz como o nosso, é provável que um boca-a-boca construído aos poucos, como seria o ideal, não venha a ter tempo para acontecer. Garantindo que seja impossível que se passe por aqui o mesmo que se viu no país de origem da produção, que inclusive ganhou até uma sequência – Help, I Shrunk My Parents, no título internacional, que pode ser traduzido como Socorro, Eu Encolhi meus Pais – lançada agora no começo de 2018. Em resumo, que saudades de Rick Moranis e o seu Querida, Encolhi as Crianças (1989)!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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