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Sinopse

Um jovem juiz está obstinado a fazer justiça na fronteira do Brasil com o Paraguai. Ele assume como missão desmantelar o esquema de contrabando e tráfico de drogas chefiado por Gomez. Para isso, ele contará com a ajuda de uma procuradora e de um policial federal.

Crítica

Sérgio Rezende é um cineasta que tem grande sintonia com temáticas relacionadas à História do Brasil. Depois de ter vivido um período basicamente revisionista em sua carreira – são dele filmes como O Homem da Capa Preta (1986), cinebiografia do político Tenório Cavalcanti; Lamarca (1994), produção que reconta a história daquele líder revolucionário; Guerra de Canudos (1997), sobre o conflito armado ocorrido entre 1896 e 1897 na Bahia; e Zuzu Angel (2006), a respeito da estilista que perdeu seu filho durante a Ditadura Militar – o cineasta tem trazido tramas mais contemporâneas, mas sempre de olho nos assuntos em voga na sociedade. Se em Salve Geral (2009), o diretor buscava um fato real – os ataques do PCC – para construir sua trama de ficção, no seu novo trabalho Em Nome da Lei, Rezende busca na figura de um juiz incorruptível (baseado em um juiz real) uma oportunidade perfeita para construir um thriller policial muito brasileiro, com boas cenas de ação e elenco interessante.

Na trama, o idealista juiz Vitor (Mateus Solano) é destacado para assumir uma comarca fronteiriça entre o Brasil e o Paraguai. Lá, o território é comandado pelo poderoso chefão Gomez (Chico Diaz), conhecido como El Hombre. Vitor se surpreende com a facilidade com que aquele bandido consegue executar seus serviços escusos e, diferente de seus antecessores, não pretende deixar isso barato. Para tanto, começa a trabalhar junto da polícia federal para minar os planos de Gomez e fazer com que ele pague pelos crimes que cometeu. Ao seu lado, estão a promotora pública Alice (Paolla Oliveira) e o policial Elton (Eduardo Galvão). Do outro lado da lei, Gomez conta com a ajuda de delegados, senadores, capangas e todo o tipo de regalia que um homem com seu poder consegue comprar.

Não temos muitos exemplares do gênero policial sendo produzidos no Brasil atualmente e Em Nome da Lei é um saudável mergulho de Sérgio Rezende neste métier. Talvez por estarmos vivendo em um momento político tão delicado e por existirem dúvidas a respeito do trabalho que um juiz pode ou não fazer, este longa-metragem encontre um público interessado. O Vitor de Mateus Solano é um homem íntegro, respeitável e extremamente utópico. Sua vontade de acabar com a sujeira das ruas só é menor do que sua certeza de que está fazendo um trabalho válido. Por ser tão autossuficiente, o juiz acaba esquecendo-se de pedir ajuda às pessoas que estão mais tempo naquela região e que poderiam auxiliá-lo nesta tarefa. Alice e Elton clamam por chances de realizarem sua parte na questão, mas são deixados de lado inúmeras vezes por Vitor. Essa sua teimosia cobrará seu preço, ao mexer em um vespeiro muito perigoso. Solano convence em uma performance cheia de impulsividade, mas precisa trabalhar para perder cacoetes de personagens passados. Em dados momentos, parece que estamos vendo o Félix da novela em um outro cenário.

Enquanto isso, Paolla Oliveira executa bem sua função, mas acaba sendo traída por um personagem que serve mais como interesse amoroso do que como promotora. O romance, aliás, entre os dois protagonistas surge de forma afoita. Mais como uma necessidade do roteiro do que algo realmente vivido por Vitor e Alice. Em contrapartida, Eduardo Galvão ganha muitos pontos pela seriedade com que encarna Elton, dando calma e um aparente cansaço àquele homem. Fechando o elenco principal, Chico Diaz está ameaçador como Gomez, mas também se ressente pela obviedade de alguns pontos do roteiro. Era necessária tamanha referência ao Poderoso Chefão (1972)?

Apesar de alguns problemas de roteiro, Em Nome da Lei tem uma boa atmosfera policialesca e conta com um protagonista que facilmente cai nas graças do público. Poderia ter mais foco, não perdendo tanto tempo com personagens coadjuvantes que nunca dizem a que vieram. Com quase duas horas de duração, é notório que algumas gorduras poderiam ser cortadas sem prejuízo algum à história principal. Apesar desse inchaço, o final surge um tanto abrupto, tentando surpreender pelo desenrolar pouco usual das questões propostas. Pode funcionar com fãs do gênero, embora tenha muitas arestas a serem aparadas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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