Crítica


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Sinopse

Um homem traumatizado busca vingança após ter perdido a esposa e o filho. Eles morreram tragicamente em um acidente de avião causado por negligência de um controlador de tráfego aéreo.

Crítica

A vingança não é, absolutamente, o tema principal de Em Busca de Vingança, ficando restrita aos instantes finais da realização de Elliott Lester. O verdadeiro mote do filme é o turbilhão de consequências nefastas de um acidente aéreo com múltiplas vítimas, especialmente lançado sobre dois homens diretamente ligados à tragédia. Arnold Schwarzenegger interpreta Roman, imigrante ucraniano que aguardava o desembarque da esposa e da filha grávida. Scoot McNairy vive Jake, controlador de voo encarregado no momento em que as aeronaves se chocam, causando centenas de mortes. Existe um exercício constante de aproximação desses dois sujeitos devastados pelo mesmo evento. De um lado, alguém sofrendo incessantemente a perda de entes queridos. Do outro, o corroído pela culpa que, de certa maneira, também acaba sendo apartado dos seus, já que não consegue evitar os efeitos do estresse pós-traumático, estado decorrente da opressora sensação de culpa pela catástrofe que causou sofrimento e dor a tanta gente.

Mais que mero aviso, o letreiro de “baseado em fatos” que antecede o começo de Em Busca de Vingança é utilizado como uma espécie de escudo contra eventuais questionamentos acerca das coincidências que ajudam o filme a avançar. Portanto, não se pode exatamente colocar em xeque o achado de um colar de pérolas específico em meio aos escombros. Contudo, é devido objetar a construção do momento na telona, frágil do ponto de vista cinematográfico. Roman, com toda facilidade do mundo, passa por seguranças e se torna um ajudante da polícia e dos bombeiros no trabalho no local dos destroços. A joia miraculosamente encontrada leva ao cadáver da filha, numa cena apelativa, passada num entorno assepticamente construído, o que torna difícil acreditar em sua veracidade. O próprio corpo localizado não possui, sequer, rasgos na roupa, quanto mais alguma demonstração evidente e crível das consequências de uma queda violenta como a ocorrida na ocasião.

Esse descuido com os detalhes não passa apenas por cenografia e direção de arte, fazendo-se presente, também, na urdidura da progressão da trama. São oferecidas soluções simples para situações intrincadas, como a adaptação dos envolvidos à nova realidade. Os trabalhos de Schwarzenegger e McNairy são superficiais, desempenhos, a bem da verdade, não beneficiados pelo andamento da narrativa, cujo privilégio é mostrar homens devastados em momentos de introspecção, sem investimento real na interação deles com os meios. Somente Jake ganha um pouco de relevo nesse sentido, pois há o drama vivido domesticamente, com a esposa e o filho sendo atingidos. Em Busca de Vingança estabelece pontes flagrantes entre os protagonistas, chegando a paralelizar momentos de extremo desespero, como quando ambos estão prestes a recorrer ao fim precoce para mitigar as dores sentidas. A identificação, todavia, soa forçada, sobrepujando a singularidade dos personagens em voga.

Há vários desperdícios em Em Busca de Vingança. Elliott Lester toca muito timidamente nas questões éticas, especialmente as referentes às condutas da companhia aérea e dos jornalistas. Inclusive, a cena que mostra Roman confrontado por advogados empedernidos é quase caricata, destoando da tentativa predominante de manter o registro menos estereotipado. A vingança propriamente dita – algo que chamou a atenção da distribuidora brasileira – só começa a ser desenhada nos vinte minutos derradeiros, se concretizando efetivamente na última cena como componente deste drama combalido pela falta de pungência. Na essência, é um longa calcado no processo de empatia. Se há algo de bom nele, é justamente a recusa em apontar culpados, o escrutínio dos personagens à procura, não de respostas, mas da constatação da falibilidade humana, em diversas esferas. Infelizmente, falta espessura e tônus para isso se concretizar totalmente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
6
Filipe Pereira
2
MÉDIA
4

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