Crítica
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Sinopse
Rose e Léo estão passando quase pelas mesmas coisas ao entrar para uma escola nova. Ambos precisam descobrir como fazer novos amigos e enfrentar esse ambiente que pode ser ótimo, mas também apresentar obstáculos difíceis de transpor para quem está na adolescência.
Crítica
A sincronicidade entre Rosa (Duda Matte) e Leo (Marcus Bessa), condição assinalada pela montagem paralela da apresentação dos protagonistas de Ela Disse, Ele Disse, é um prenúncio do “felizes para sempre”, da disposição do longa baseado no livro homônimo de Thalita Rebouças para organizar suas peças pensando num encerramento conciliador, isso após o périplo acidentado. Encarando os riscos decorrentes desse descolamento da verdade menos idealizada, a cineasta Claudia Castro constrói uma espécie de conto de fadas moderno ambientado numa escola abastada, perpassado por uma vontade escancarada de explorar arquétipos e estereótipos. Os dois jovens centralizados estão chegando ao novo ambiente colegial, frequentemente confessando ao espectador – num processo de quebra da quarta parede apenas a eles permitido – medos e anseios que sobrevém à mudança de ambiente. Sem mais aquela, se esbarram e se curtem de imediato.
Ela Disse, Ele Disse percorre um caminho amplamente conhecido quando o assunto são enredos centrados em amores escolares. Passando longe de apontar as complexidades, emocionais e psicológicas, de coisas como a indiferença e/ou agressividade dos grupinhos, a vontade de ser popular a fim de obter aceitação, além os padrões bastante corroborados nesse ambiente que pode ser tão estimulante quanto tóxico, a realizadora abraça com brios a pegada infantojuvenil, traçando caminhos comuns, mas tendo o cuidado de dotar o conjunto de personalidade. Algumas soluções visuais criativas, tais como o acúmulo de imagens na parede de Rosa assinalando a passagem do tempo e, por conseguinte, a coleção crescente de memórias com os novos amigos, se encarregam de diminuir o impacto de banalidades. Os pais dos protagonistas, por exemplo, são meros adereços sem grande espessura dramática, ali somente para cumprir uma função bem simples.
O grande trunfo de Ela Disse, Ele Disse é o carisma do elenco encabeçado por Duda Matte e Marcus Bessa, ambos construindo personagens pelos quais facilmente se cria simpatia. Entretanto, Maísa, interpretando sua primeira "má", rouba a cena, deliciando-se ao apresentar uma figura absolutamente caricatural, a menina bonita, respeitada pelos dotes físicos e pela capacidade de magnetizar atenções. Alguns dos principais momentos bons do longa-metragem se dão, justamente, a partir do efeito cômico gerado pela intrusão dessa menina sem noção que está atrás de popularidade. Uma pena que não caiba nesse roteiro, abertamente contente com a superfície, uma observação mais profunda das causas desse tipo de comportamento comum. As intrusões gráficas e a emulação da linguagem (visual e verbal) da internet são elementos que dinamizam habilidosamente o filme, de certa forma conectando-o com o público-alvo dessa produção tecnicamente boa.
Dentro dessa estrutura narrativa demarcada pelo tom direto e a ausência de nuances consideráveis, problemas aparentemente intrincados são resolvidos como num passe de mágica, brigas não deixam sinais em quem apanha e a diligência carola da diretora vivida por Maria Clara Gueiros logo sucumbe à "fofura" instaurada em torno do amor. É bem-vinda a pontuação de beijos entre meninas, bem como entre meninos, a fim de retirar o estigma de interdito de algo que deveria apenas ser entendido como demonstração de afeto/desejo e, portanto, completamente natural e sadio. Ainda que essas ocasiões sejam demasiadamente rápidas, que se diluam bem no fluxo da sequência na qual estão circunscritas, são boas exceções num filme que, apesar da fluidez narrativa e das qualidades que levam à fruição prazerosa, está apartado de uma estrita realidade, comunicando-se com ela somente em nível muito epidérmico. Todavia, é um bom divertimento infantojuvenil com doses de graça.
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