Crítica


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Sinopse

Durante um dos momentos mais dramáticos de sua vida, Pedro cruza a fronteira entre Brasil e Uruguai.

Crítica

Road movies, ou filmes de estrada, são tão comuns que quase se apresentam como um subgênero cinematográfica, principalmente no cinema norte-americano, onde temos exemplos notórios, desde o clássico Sem Destino (1969) até o recente Na Estrada (2012), passando pelo feminista Thelma & Louise (1991). Em cena, geralmente temos protagonistas em constante movimento, seja por carro, motocicleta, ônibus, trem ou até mesmo uma máquina de cortar grama (parabéns, David Lynch!). Muito menos comum, no entanto, é quando esse personagem está não só isolado, numa jornada tão interna quanto externa, e à pé, ou seja, caminhando. Pois é justamente o que acontece em Dromedário no Asfalto, corajoso longa de estreia do realizador gaúcho Gilson Vargas.

O dromedário é um animal quase. É quase um camelo, é quase um meio de transporte, é quase do deserto, é quase conhecido. A ausência de uma das corcovas (possui uma única nas costas) o torna estranho diante dos parentes mais populares, reconhecidos pelos dois calombos que ostentam com orgulho. O dromedário é menor, é mais arisco, é mais independente. Pode ser domesticado e usado em serviço, mas dá mais trabalho. E por todos estes motivos acaba assumindo uma posição quase que adjacente na natureza, como se lhe faltasse algo para ocupar seu lugar de direito. É o que sente Pedro, interpretado por Marcos Contreras, condutor desta trama de sentimentos desencontrados, carências afetivas e emoções contidas.

Quando conhecemos Pedro, ele já está na estrada. Aos poucos descobrimos que saiu de Porto Alegre, e seu rumo começa a se delinear quando nos depararmos com o mar. Região pouco explorada pelo cinema feito no Rio Grande do Sul, tendo sido vista de relance em filmes como Houve Uma Vez Dois Verões (2002), de Jorge Furtado, e Bens Confiscados (2004), de Carlos Reichenbach, o litoral teve papel fundamental em A Última Estrada da Praia (2010), longa de estreia de Fabiano de Souza e coproduzido por Vargas. E se o realizador retoma esse ambiente, o usa no entanto como elemento de passagem, pois é preciso que o personagem se lave física e emocionalmente, deixando para trás o excesso de peso, de rancores, de desgastes e de ilusões e se concentre naquilo que pretende ir atrás. Renovado, estará pronto para lidar com o encontro mais aguardado de sua vida.

Dromedário no Asfalto é composto quase que exclusivamente por uma narração em off, o que pode incomodar à princípio. São poucos os diálogos, e estes, quando aparecem, pouca função assumem na trama, contribuindo mais no desenho do protagonista do que no desenrolar da ação. Os tipos que passam por ele, como a bióloga curiosa ou o alemão perdido na vida, são alegóricos, reforçando esse sentimento de estranhamento geral. Leva-se mais da metade do filme até que alguém pergunte a Pedro para onde ele vai, o que afinal procura. Não há pressa, portanto, e se o final nos remete ao recente A Busca (2012), com Wagner Moura, tal semelhança não parece ser gratuita, porém é muito mais econômica. Gilson Vargas sabe usar a imagem a seu favor, e a estrutura competente de sua obra – amparada por uma excelente e estudada fotografia de Bruno Polidoro e por uma trilha sonora envolvente composta pelo próprio diretor – colabora para o resultado final ser emocionante na medida certa. Este não é um filme que deverá provocar lágrimas abundantes, mas que certamente deixará muitos olhos úmidos. Singelo e eficiente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
7
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
6.5

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