Crítica


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Sinopse

Depois que a mãe de um jovem morre, seus amigos se reúnem. Mas, velhas feridas ocasionados por conflitos mal resolvidos vêm à tona e trazem consigo a desilusão e a raiva.

Crítica

Antes de tudo, é importante ressaltar que Descaminhos se trata de uma obra artesanal, no qual é preciso estar imbuído do espírito cinéfilo do gênero filme B para aproveitar atuações desmedidas de atores inexperientes, surtos coletivos e personagens descartáveis. Porém, se o espectador for receptivo às aventuras experimentais e considerar de bom grado quaisquer uma destas escolhas narrativas, talvez seja a produção indicada para um momento de descontração entre amigos. Agora, quem julgar situações como as descritas acima bizarras ou constrangedoras, é melhor se distanciar.

A empreitada audiovisual é a 11ª, entre curtas e longas, da carreira do diretor Armando Fonseca (Skull: A Máscara de Anhangá, 2020). Em seu novo projeto, nos apresenta um grupo de seis amigos que recorre a uma viagem de final de semana rumo a um rancho longínquo para se recuperar mentalmente do falecimento de um ente querido de todos. Sem os participantes debaterem muitos detalhes do passado, se jogam em prazeres químicos/naturais para "curar" a alma. Estamos falando de ervas medicinais, remédios tarja preta e rituais holísticos. Esta explicação basta para se chegar à força motriz da história, pois ela se desenrola a partir das percepções dos retratados após ingerirem essas misturas.

Logo, essa junção de fármacos desperta desejos e pesadelos nos protagonistas, dando espaço para que o realizador empregue o experimentalismo como base do discurso principal. Em tom teatral, o filme toma rumos oníricos, discutindo a natureza dos sonhos de cada um dos papéis ao expor traumas e acovardamentos. A distância entre devaneio e realidade é clara, sem margem para interpretações. Não há problema algum nesse tipo de conjectura, contudo não são dados antecedentes para compreender o percurso mental de cada indivíduo, descambando para um discurso vazio e quase impossível de entender as fantasias retratadas em tela.

É perceptível o impulso do diretor por chocar, ao optar por cenas perturbadoras que exibem feridas, gritos histriônicos e um tom de mistério que persiste do início ao fim. Aqui, são compostas sequências que podem gerar desconforto. Por outro lado, não são uma nem duas “armas de Chekhov” - princípio dramático que diz que todos os elementos presentes em um conto devem ser necessários e matérias irrelevantes devem ser removidas - que nos são apresentadas para logo depois se tornarem partes desimportantes no enredo. Existe um assassino no primeiro ato e uma moça desconhecida. Eles não retornam para a trama. Há um slasher que faz uso de uma cabeça de cachorro como máscara, criando um temor entre os viajantes. Este assassino é igualmente assolado, entre outras peças desse confuso tabuleiro.

Volta e meia, a contrariedade às práticas tradicionais do cinema convencional liberta algumas amarras, lembra que histórias podem ser contadas de diversas formas e que é capaz de se sobressair diante de orçamentos modestos e outras “carências”. Ainda assim, no final das contas, Descaminhos assimila um exercício tortuoso de paciência - mesmo para os citados simpatizantes deste modelo cinematográfico.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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