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Sinopse

Desde que a advogada Ivana Cornejo se divorciou, sua vida amorosa ficou estagnada. Um dia, quando perde seu celular, a sorte aparece: um homem simpático e divertido liga para ela, dizendo ter encontrado o aparelho. Eles decidem se encontrar, para devolver o aparelho, em um jantar romântico. Quando ela vê León, fica surpresa: ele tem apenas 1,35m. Os dois se apaixonam, mas ela percebe que a sociedade e seus amigos podem ser muito duros com uma pessoa de baixa estatura.

Crítica

Marco Carnevale é um cineasta acostumado a trabalhar com casais pouco comuns. Se no seu maior sucesso, a comédia dramática Elsa & Fred (2005), o foco era na relação que surgia entre dois octogenários, em Viúvas (2011) a atenção se voltava para a esposa e para a amante e como uma lidava com a outra na ausência do homem que, de um jeito ou de outro, servia de elo de ligação entre elas. Pois em seu trabalho mais recente, o bem humorado Coração de Leão, o romance está novamente em cena, porém o diferencial não está nem na idade, muito menos no sexo dos protagonistas. A questão, aqui, está na vertical.

Após uma discussão com o ex-marido, Ivana (Julieta Díaz) fica tão possessa que acaba jogando longe seu aparelho celular. Quem presencia a cena, ainda que um tanto afastado, é León (Guillermo Francella), que não só recolhe o telefone como em seguida tenta contatá-la para devolver o objeto extraviado. Quando, naquela mesma noite, os dois finalmente conseguem conversar, ela se surpreende pelo charme e carisma daquele estranho tão interessado nela. Afinal, ele a viu, sabe como ela é e tem certeza da atração que sente. Para descobrirem que a recíproca é verdadeira, a solução é marcarem um encontro – com a desculpa da entrega do celular. Entusiasmada com essa nova possibilidade que se abre, qual não se será sua surpresa quando finalmente se deparar com o galante desconhecido: se quem lhe surge é um homem apessoado, bem sucedido profissionalmente e muito educado, o problema estará em sua altura – afinal, ele tem apenas 1,36m!

Se essa revelação é tratada com cuidado, o subtítulo nacional entrega o mistério de imediato – afinal, O Amor não tem Tamanho não é muito sutil. Apesar da estranheza inicial, Ivana se deixará levar pelas iniciativas e argumentos de León, que com sua alegria de viver a conquista irremediavelmente. Mas conseguirá ela lidar com essa paixão ao mesmo tempo em que será confrontada constantemente com o próprio preconceito – e com o daqueles que a cercam, como a mãe e o antigo companheiro, também seu sócio no escritório de advocacia onde trabalha?

Como qualquer boa produção argentina, Coração de Leão tem como destaque a humanidade dos seus personagens, que são mais do que meros estereótipos. León tem plena consciência de sua desvantagem física, mas isso não o impede de amar, de viver e de se entregar. O que ele quer, no entanto, é alguém que faça como ele e esteja ao seu lado. Essa pode ser a complicação com Ivana, uma mulher bela que nunca antes se deparou com esse tipo de exigência. Mas é curioso perceber como todos os demais personagens também possuem seus próprios problemas: o filho dele desempregado, a mãe dela que casou com um senhor surdo-mudo, o ex-marido ciumento e possessivo, a secretária insegura e oferecida. Só o discurso desta sobre a praga do politicamente correto é exemplo suficiente do quão mais profundo é o tema em discussão, que vai além do mero entretenimento passageiro.

Sucesso de bilheteria na Argentina, Coração de Leão recebeu três indicações ao prêmio da Academia de Cinema Argentino, tendo sido reconhecido como Melhor Atriz (Díaz). É, no entanto, em Francella – um dos destaques do oscarizado O Segredo dos seus Olhos (2009) – que está a alma dessa história. Se o efeito especial que o reduziu é executado com precisão – o ator, na verdade, possui 1,72m – por outro lado é de se perguntar porque não foi chamado um anão de verdade para o papel – seria a falta de um Peter Dinklage latino? A despeito da previsibilidade do seu final e de outros percalços como esses aqui citados, tem-se um filme que emociona e diverte, ao mesmo tempo em que provoca o espectador. Afinal, o que você faria nessa situação?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Francisco Carbone
7
MÉDIA
7

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