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Sinopse

Três escoteiros e amigos de infância unem forças com uma garçonete valentona e se tornam uma equipe de heróis improvável. Isso acontece quando a tranquila cidade onde vivem é devastada por uma invasão zumbi, fazendo com que eles tenham de colocar suas habilidades de escoteiros à prova para salvar a humanidade dos mortos-vivos.

Crítica

Tinha tudo para ser um sucesso cult – ou o mais próximo que se possa dizer de uma obra que acaba tendo uma boa repercussão, ainda que dentro de um círculo limitado de admiradores. Mais ou menos como aconteceu com Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012) ou João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013), porém, acrescido de uma boa dose de humor non sense à fórmula inesperada destes dois. Pois infelizmente, parece que foi justamente essa combinação pouco convencional que acabou determinando o fracasso de público de Como Sobreviver a um Ataque Zumbi, longa que não conseguiu faturar nem um terço do seu orçamento, que já fora baixo (cerca de US$ 15 milhões). Mas não se deixe enganar por esses números: o longa que aqui se apresenta é dinâmico, com atores convincentes, proporciona bons sustos e, sim, é muito engraçado.

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Após chamar atenção com o genérico Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (2014) – o representante latino da franquia, que não consta na saga oficial – o diretor Christopher Landon deve ter percebido que melhor do que provocar medo é saber rir destas reações. Assim, escreveu e assumiu a realização deste Como Sobreviver a um Ataque Zumbi, que fica ainda mais curioso se prestarmos atenção ao título original – em tradução literal, algo como Guia dos Escoteiros para o Apocalipse Zumbi (nome assumido em Portugal, por exemplo). Os mais maduros devem lembrar dos personagens Huguinho, Zezinho e Luisinho, os sobrinhos do Pato Donald, da Disney, que eram escoteiros e neste manual, que carregavam sempre consigo, encontravam respostas e soluções para qualquer tipo de problema. Mais ou menos o que acontece com os amigos Ben (Tye Sheridan), Carter (Logan Miller) e Augie (Joey Morgan).

Com um fiapo de história – zumbis começam a aparecer por todos os lados e os protagonistas precisam descobrir como sobreviver em meio ao caos total – Landon consegue espaço para, nos rápidos 90 minutos que tem ao seu dispor, desenvolver seus personagens e as relações que os unem. Os escoteiros aqui presentes são os últimos que ainda acreditam nesta atividade – e dois deles estão prestes a desistir do uniforme em nome de uma vida escolar mais normal, com outros amigos e mais próximos das garotas. Na noite em que resolvem fugir de um acampamento para irem a uma festa, antes mesmo de alcançarem o destino percebem o tamanho da enrascada em que se meteram. Para ajudá-los surge uma ex-stripper (Sarah Dumont), mulher de atitude que pode ser tudo, menos a mocinha indefesa. E a missão deles, além de enfrentar um sem fim de mortos-vivos, será encontrar o lugar do baile e salvar a irmã de um e interesse amoroso de outro.

Sem muito tempo a perder, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi parece assumir de vez os exageros que contém, deixando de lado qualquer tipo de arrependimento. Assim, somos colocados diante de cenas dantescas, como uma vencedora do Oscar (a octogenária Cloris Leachman, de A Última Sessão de Cinema, 1971) com a cara enfiada na bunda de um garoto com idade para ser seu neto, ou o herói que, para não cair em uma cama-elástica cheia de defuntos vorazes, acaba preso na janela do segundo andar agarrado apenas no pênis do zumbi que o perseguia. Descrevendo assim, em palavras diretas e sem ambientação, a reação mais natural seria virar as costas e ignorar a existência de tal produção. No entanto, aquele que assim proceder estará deixando para trás uma das comédias mais absurdas e divertidas do ano.

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Muito contribui para a proposta funcionar o bom entrosamento que se percebe entre os atores. Tye Sheridan, jovem ator de longas sérios como A Árvore da Vida (2011) e Joe (2013) – pelo qual foi premiado no Festival de Veneza – se revela um protagonista à altura do desafio, cativando o espectador com seu jeito ao mesmo tempo ingênuo e sedutor. Logan Miller é o alívio cômico necessário, enquanto que Joey Morgan é a carta na manga, a surpresa que surge no último momento e com efeito certeiro. Sarah Dumont e Halston Sage se dividem na posição de interesse feminino, enquanto que até Patrick Schwarzenegger (ele mesmo, filho de Arnold) se sai bem como o galã calhorda (ainda se usa essa expressão?). E de forma despretensiosa e bastante simpática, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi consegue se diferenciar de outros longas semelhantes – como Zumbilândia (2009) e Todo Mundo Quase Morto (2004) – com atitude e personalidade. Dois elementos cada vez mais raros nas telas e que não podem ser ignorados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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