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Sinopse

Três amigos utilizam as ondas de uma rádio pirata para exigir liberdade enquanto planejam a revolução. Um poderoso empresário e magnata do forró pretende acabar com a atividade deles.

Crítica

Os irmãos Luiz e Ricardo Pretti, ao lado de Pedro Diogenes, já produziram longas-metragens criativos e promissores como Estrada para Ythaca (2010) e Os Monstros (2011), todos pela Alumbramento Filmes, um coletivo que movimenta a cena audiovisual de Fortaleza, no Ceará. Agora, eles chegam as salas de exibição com um novo trabalho, Com os Punhos Cerrados, cuja temática dialoga com o atual momento político do Brasil. No filme, três amigos usam uma rádio pirata para divulgar o pensamento anarquista e, com seu discurso, provocar a população e os poderosos da cidade. No caso, incitarem os ouvintes a uma revolta promissora e os governantes para atentares aos seus atos. No entanto, ainda que se esforce para apresentar seu ritmo, não consegue manter a afinação e, muito menos, o poder da poesia ao qual se propõe.

Para o público, é quase automática a associação do título do filme dos garotos cearenses com De Punhos Cerrados (1965), segundo longa-metragem do cineasta italiano Marco Bellocchio, que também traz a revolução da juventude como cerne do roteiro. A presença da rádio pirata como forma de protesto faz lembrar os nacionais Uma Onda no Ar (2002), de Helvécio Ratton, e Branco Sai, Preto Fica (2014), de Adirley Queirós. Mas Com os Punhos Cerrados não bebe nem na fonte brasileira e muito menos na italiana. Seu início, com os três protagonistas vagando cansados por uma praia, fotografados num ambiente quase etéreo, faz com que o espectador espere um filme de atmosfera ou, no mínimo, uma visão de como estes jovens enxergam sua cidade, já que há um corte brusco para o trânsito noturno, onde um carro tem seu forró eletrônico interrompido por um texto que critica a elite e irrita seu ouvinte. Não há nem uma coisa, nem outra.

A boa seleção musical apresentada como trilha do filme, que vai de Léo Ferré a Belchior, passando por canções de protesto e tradicionais italianas, planta uma esperança que não se concretiza. Com os Punhos Cerrados tem personagens e trama mal construídas, ou melhor, não construídas, porque não somos introduzidos na força que os move. Mesmo o suposto vilão da história, que aparece poucas vezes, sem mostrar o rosto, é uma incógnita que atrapalha a empatia com a trama. Um político? Um conservador vingativo? Um rebelde sem causa? Não defendo que seja necessário conhecer os mínimos detalhes de suas relações, mas é preciso, no mínimo, entender um pouco o que os faz invadir os sinais e declamar textos de James Joyce e Oswald de Andrade. Influências do cinema marginal? Não, pois o que não faltava em Sganzerla e sua turma era intimidade entre público e os que estavam na tela. A tal revolução sonhada pelo trio principal ganha apenas uma simpatizante, que se aproxima deles após ser contratada para dar um fim nas suas intervenções. A única personagem feminina diz meia dúzia de frases, tira a roupa e sai de cena para voltar apenas no final, carregando um clichê para a esperança. Isso sem contar os quase três minutos de tela escura, apenas com sons que nada acrescentam a história.

Num país governado por um senhor misógino, elitista e sem um pingo de simpatia, Com os Punhos Cerrados se mostrava uma boa arma artística, mas seu erro foi justamente deixar as críticas políticas e sociais servirem como pano de fundo para uma série de cenas longas demais, nada inovadoras e que mesmo que tragam nudez, sangue e palavras fortes, são esquecidas na primeira curva, logo após os créditos finais. Um filme que quer propagar a liberdade tem atuações truncadas e diálogos artificiais, que só passam a acontecer de verdade quando já se passaram 40 minutos de exibição, para sumir logo depois e os longos discursos voltarem a ser soltos no ar. Com os Punhos Cerrados podia ter feito da liberdade o seu norte e se tornado um filme-poesia rasgado, preocupado com o sensorial. Mas o pouco roteiro quis se fazer presente e a confusão foi feita. O texto final, mais um clichê, fala que não se pode calar as vozes de protesto. No cinema, não podemos colocar amarras quando se quer voar mais alto.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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