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Sinopse

Superados os grandes problemas, Anastasia e Christian têm amor, intimidade, dinheiro, sexo e um promissor futuro. A vida, no entanto, ainda reserva surpresas para os dois. Eles estão, finalmente, juntos, mas há interesses externos que podem ameaçar a felicidade do casal.

Crítica

No primeiro filme, eles se conheceram. Ficaram. Começaram a sair. Ela, ainda tímida, descobria os prazeres de uma relação sexual submissa a um homem dominador. Porém, o negócio foi longe demais e a garota caiu fora. No segundo capítulo, ele correu atrás dela, numa obsessão sem igual. Ela lhe deu o benefício da dúvida. O namoro foi retomado. Os fetiches ganharam mais força. Após uma série de eventos sem pé nem cabeça, resolveram morar juntos, até um pedido de casamento. Pois bem. Chegamos à parte final de um dos romances mais destrutivos da história do cinema atual. O pior de tudo: extremamente romantizado como se fosse o retrato de um amor, acima de tudo. Não se enganem. Cinquenta Tons de Liberdade é o oposto disso. Uma verdadeira lição de vida de como não se deve levar um relacionamento.

Após assumir o controle da franquia com um capítulo menos pior que o inicial, o diretor James Foley não perde tempo e, já nos créditos iniciais, mostra o casamento e uma série de viagens que retratam a lua-de-mel de Christian Gray (Jamie Dornan) e Anastasia Steele (Dakota Johnson). Depois de momentos românticos por lugares paradisíacos, logo a ciumeira possessiva do milionário toma conta de sua persona, quando a editora resolve fazer topless numa praia. Como “castigo”, ele a leva para o iate, onde rola uma daquelas sessões de sexo sadomasoquista que, de picantes, nem a fotografia escurecida ajuda a entender. Os planos são interrompidos quando se descobre que Jack Hyde (Eric Johnson), o ex-chefe dela, está de volta e roubando documentos sobre a vida de Gray. A história, boba e desconexa (não dá pra entender o que ele tanto queria com aquela papelada) é resolvida mais rápido do que o protagonista baixa a calcinha da esposa. Porém, nesse meio tempo, várias outras minitramas paralelas e tão sem sal quanto são inseridas no meio. Inclusive a gravidez de Ana e o medo que isso causa em seu marido.

Aliás, não é bem medo a palavra certa. Gray é tão carente, num grau de psicopatia perigoso, que tem pavor que um filho roube a atenção da amada de si. Ele é um vampiro emocional. Ana, é uma garota que tem fantasias de controle, mas, na verdade, está presa numa relação abusiva. Só assim para entender o quanto ela aguenta tantas bolas fora dessa criatura que se acha sua dona, que invade suas reuniões de trabalho, mal a deixando ver os amigos e colocando um segurança para andar com ela para cima e para baixo. É paranoia machista misturada com abuso. E o pior: o roteiro tenta, a todo o momento, minimizar algo tão violento, vindo da psique de alguém, como se fosse um conto de fadas em que Ana é a Cinderela precisando da proteção do Príncipe (Des) Encantado.

Se tem algo interessante nisso tudo é que, ao menos, Dakota Johnson finalmente parece estar mais à vontade nesse ingrato papel. Se o script não ajuda muito a definir se Ana é uma mulher totalmente submissa ou uma persona independente que só gosta de ser mandada na cama, ao menos a atriz tenta conferir uma personalidade mais forte com um jeitinho bem sassy. Totalmente ao contrário do primeiro capítulo ou das leves nuances do segundo. Já Jamie Dornan, coitado. Sua beleza continua proporcional à falta de talento dramático. Feliz ou triste, suas emoções inexpressivas são sempre as mesmas. Num filme como este, em que a história por si só é ruim, ao menos o elenco poderia ajudar. Nem vamos entrar no mérito do desperdício de outros grandes nomes que fazem reles coadjuvantes unidimensionais.

Outra questão que poderia ajudar são as cenas de sexo. Oras, a trilogia, desde quando foi lançada apenas em livro, prometia sequências arrebatadoras de BDSM. Talvez nas páginas elas funcionem melhor, porque na tela não passam de meio segundo de gemidos e posições que acabam no clássico “papai e mamãe”. Sem contar que é sempre o corpo de Ana que fica em destaque. Do de Gray, no máximo, um relance do traseiro. Se o grande público que assiste ao longa é formado em sua maioria por mulheres, não deveria ser o contrário? É um festival de mesmice misógina. Ao menos em outros contos eróticos do cinema isso já foi melhor trabalhado. Quem não se lembra de Emmanuelle (1974) e suas dezenas de sequências em que eram as mulheres que tomavam à frente da história? Lá pelas tantas Gray questiona porque Ana lhe desafia. “Porque eu posso”, ela responde. Realmente, é um desafio à nossa paciência também ter que aturar diálogos tão clichês.

É claro, com um parco material original para ser adaptado (afinal, a saga Cinquenta Tons começou como uma fanfic de, hmm, Crepúsculo), o resultado não poderia ser grande coisa. Porém, há algo extremamente positivo neste último capítulo. Cinquenta Tons de Liberdade realmente faz jus ao título – talvez não da maneira que seus produtores gostariam. Afinal, finalmente os espectadores estão livres de uma das cinesséries mais aborrecidas da história recente da literatura e do cinema. Se faltou sadomasoquismo nos três capítulos, sobrou aqui fora com o público. Afinal, só assim para entender como algo tão ruim consiga agradar milhões de pessoas e render centenas de milhões nas bilheterias. É um festival de fetiches machistas de dar pena e sono. Aí sim a cama da sala vermelha finalmente serve pra algo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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