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Sinopse

Nino é um aprendiz de feiticeiro que vive com seus tios, Morgana e Victor, há mais de 300 anos. Querendo ter uma vida normal como todos os demais garotos, ele acaba participando de uma trama orquestrada por sua tia Losângela, que pretende roubar o livro de magias de Morgana.

Crítica

É uma constante: toda adaptação para o cinema irá carregar consigo a comparação com o produto original. Um clássico da programação infantil dos anos 90, Castelo Rá-Tim-Bum fazia subir o ibope da TV Cultura e também a simpatia da garotada pelas aventuras de Nino e seus amigos Zeca, Pedro e Biba. Após anos de sucesso na telinha, o diretor Cao Hamburger, responsável pela criação da série junto com o autor Flávio de Souza, resolveu que era chegada a hora de fazer um filme a partir do original, já que o público infantojuvenil não era o foco das produções nacionais naquela época. Eis que, em 1999, após o período inicial da Retomada do cinema brasileiro, é lançado Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme.

A realização, que tem roteiro assinado por Anna Muylaert e José Carvalho, foi pensada com a difícil tarefa de atrair tanto os fãs do programa de TV quanto as crianças mais jovens, que não tinham uma relação tão próxima com a trajetória de Antonino Stradivarius II. Sim, este é o nome completo de Nino, que no longa-metragem é interpretado pelo estreante Diego Kozievitch. Quem conheceu o Nino original, brilhantemente vivido por Cássio Scapin, logo sente o impacto, pois o menino bruxo de 300 anos agora tem cara e corpo de criança.

A mudança parece uma estratégia para tornar mais palpável na tela grande a relação do personagem com as outras crianças do elenco. Os quadros educativos, responsáveis pela maioria dos prêmios que a versão televisiva ganhou mundo afora, também foram deixados de lado em nome da narrativa. Ótima narrativa, diga-se de passagem. A opção por não se render ao clichê de explicar a origem de Nino ou realizar uma cópia do seriado com longa duração foi certeira. Temos uma nova história, um novo Nino, uma nova lembrança para agregar às já deixadas pela infância. E, aos mais jovens, se abre a porta para saber de onde surgiu tudo isso, mesmo que seja apenas uma essência.

Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme é único. As direções de arte e fotografia, mais sombrias e elaboradas que as do programa, tornam Nino e seus tios Morgana (Rosi Campos) e Victor (Sérgio Mamberti) intensos e, acreditem, reais. A maquete que ficou na memória dos que assistiram aos 90 capítulos na TV foi deixada de lado e isso fez bem ao filme. A locação, o belo Palácio dos Cedros, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, tem o clima exato para abrigar a família Stradivarius e seu integrante pré-adolescente.

Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme tem magia e até uma bruxa malvada, Losângela, vivida com força por Marieta Severo, ao ponto de ofuscar quem deveria ser o vilão, o Dr. Abobrinha (Pascoal da Conceição), presente mais por questões afetivas que narrativas. Há também participações de Angela Dip (a jornalista Penélope, porém sem a inconfundível peruca rosa) e André Abujamra, responsável pela trilha sonora da série. Mas não se pode negar que Cao Hamburger fez um filme sobre a descoberta do mundo. A partir do momento em que Nino deixa o castelo para pedir ajuda aos amigos “normais” a fim de salvar seus tios das garras de Losângela, é que começa de verdade a aventura. Um pouco tarde, pois uma hora de filme já se passou, mas não o suficiente para fazer o espectador perder o interesse.

Castelo Rá-Tim-Bum: O Filme diverte e traz sonhos a um público quase sempre esquecido pelo cinema nacional. A criatividade dos autores brasileiros para manter crianças vidradas nas telas é inegável e deve ser mais explorada. Sempre com inteligência, é claro. Dá certo. Nino, os raios e os trovões que o digam. Cresceram na tela e no conteúdo.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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