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Sinopse

Depois de ler no jornal sobre o assassinato de uma família no Kansas, o romancista nova-iorquino Truman Capote viaja até o local do crime, passa a ter contato com os criminosos e escreve um livro revolucionário.

Crítica

Apesar do que possa indicar uma primeira impressão, Capote não é necessariamente uma cinebiografia do autor de Bonequinha de Luxo (1961), e sim um retrato muito particular de um momento específico da vida do escritor. Dessa forma, se aproxima muito mais do recente Lincoln (2012) do que de outros longas do gênero igualmente oscarizados, como Ray (2004) ou Piaf: Um Hino ao Amor (2007). A intenção evidente é oferecer uma luz mais à personalidade do artista e, através dessa, oferecer uma ideia de como teria sido toda a sua vida, ao invés de narrar cada detalhe ou ocasião. Indo direto ao que interessa, estabelece-se um foco, ao mesmo tempo em que compartilha-se com o espectador a tarefa de criar uma visão única a respeito de alguém de muito se falou, mas que somente os próximos o conheceram de verdade.

No final dos anos 1950, Truman Capote era uma verdadeira celebridade da época, dispondo de fama, fortuna e prestígio para circular por todas as principais rodas de Nova York. Essa vida de excessos, no entanto, esgotou seu talento e inspirações, levando-o a um bloqueio criativo. O escritor só foi encontrar motivação para seu novo trabalho ao ler no jornal uma nota sobre dois assassinos que eliminaram uma família inteira durante um assalto. Intrigado com o que os teria levado a cometer tal ato, se dirigiu até a cidade no interior onde o fato aconteceu e passou a estabelecer um relacionamento com estes homens, através de entrevistas e conversas. O resultado foi o livro À Sangue Frio, uma obra que levou anos para ser concluída e que é considerada o marco de um estilo literário até então inédito, o ‘novo jornalismo’. Ou seja, quando uma reportagem é apresentada de forma ficcionalizada.

Muitos são os méritos de Capote, longa indicado em cinco categorias do Oscar 2006, entre elas Melhor Filme e Direção, e premiado como Melhor Ator. O principal, e aqui a Academia fez justiça, é de fato o desempenho arrebatador de Philip Seymor Hoffman como o protagonista. Ele simplesmente desaparece por trás desta nova personalidade, conferindo a melhor interpretação – masculina ou feminina – daquele ano. Hoffman havia demonstrado um talento superlativo e uma incrível versatilidade em filmes anteriores, geralmente aparecendo como coadjuvante. Esta condição começou a mudar após este trabalho, merecidamente premiado com todos os principais reconhecimentos do ano, como o BAFTA, o Globo de Ouro, o National Board of Review, o Satellite Awards, o prêmio do Sindicato dos Atores, da Sociedade Nacional de Críticos dos EUA e das associações de críticos de Vancouver, Toronto, Los Angeles, Dallas, Chicago e Boston.

Philip Seymor Hoffman reproduz com impressionante precisão os maneirismos, a loucura e a genialidade de um artista em pleno processo criativo. Em nenhum momento se percebe o ator; quem está presente é sempre o personagem, dono absoluto da trama em evolução. Cada pequeno gesto – uma troca de olhar, uma inflexão na voz, um gesto manual – denota esta impressão. Amigo desde os tempos da faculdade do diretor  Bennett Miller e do ator e roteirista Dan Futterman (mais lembrado como o filho de Robin Williams em A Gaiola das Loucas, 1996), Hoffman compartilhava com os dois desde aquela época a vontade de adaptar o romance de Gerald Clarke para o cinema. Quando Futterman decidiu assumir o desafio de roteirizar a obra,  Miller concluiu que este seria o projeto ideal para sua estreia cinematográfica. E nada melhor do que chamar o antigo amigo para estrelar o projeto. Como resultado temos um filme incrivelmente envolvente, ainda que a performance do protagonista seja maior e mais memorável do que o próprio longa. Há muito o que se comentar sobre a obra como um todo, mas poucos poderão esquecer este desempenho realmente singular.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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