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Sinopse

A maldição de uma bruxa impede que um padeiro e sua esposa tenham filhos. Para quebrar o feitiço eles precisam encontrar: uma vaca branca como o leite, uma capa vermelha como o sangue, fios de cabelo mais loiros que o milho e um sapato mais belo que ouro.

Crítica

Desde antes do sucesso de Chicago (2002), seu primeiro longa-metragem para o cinema, que o diretor Rob Marshall já sonhava em adaptar para a tela grande o musical Caminhos da Floresta. O tempo, no entanto, foi passando, outros projetos aparecendo, e somente quase uma década depois, após ouvir um discurso do presidente Barack Obama – no qual afirmava que “ninguém está verdadeiramente sozinho” – é que o projeto virou prioridade. Graças ao aval do compositor Stephen Sondheim (vencedor do Oscar de Melhor Canção por Dick Tracy, 1990), a ideia começou a se tornar realidade. E o que hoje temos é um dos filmes mais bem sucedidos em todos os tempos dentro deste estilo, tanto em público – quase US$ 200 milhões arrecadados em todo o mundo – quanto em crítica – três indicações ao Oscar e outras três ao Globo de Ouro, inclusive como Melhor Filme do ano. E este retorno é merecido? Dificilmente.

O melhor de Caminhos da Floresta é sua premissa, que combina com igual harmonia quatro contos de fada clássicos: Cinderela, Rapunzel, João e o Pé de Feijão e Chapeuzinho Vermelho. Ligando estas tramas, temos um casal de padeiros e uma Bruxa Má. Ela os amaldiçoou graças a um erro do pai dele no passado, que teria roubado do seu quintal vegetais – entre eles, os tais feijões mágicos – para aplacar o desejo da esposa grávida. Como resultado, ela pegou para si o bebê assim que ele nasceu – na verdade, uma bela menina – e ainda condenou a qualquer um que morasse naquela casa a nunca ter filhos. Essa desgraça se aplica ao filho mais velho – o padeiro – e a única maneira de acabar com a maldição é atendendo a um pedido muito particular: reunir, em apenas três dias, um punhado de cabelos amarelos como o milho, uma vaca branca como o leite, uma capa vermelha como o sangue e um sapato tão puro quanto o ouro.

Ainda que as canções de Caminhos da Floresta pontuem a trama do início ao fim – afinal, estamos falando de um musical – e que todos os intérpretes tenham que, em um momento ou outro, demostrar seus talentos vocais, não é esse o ponto forte do filme. É compreensível o sucesso nos Estados Unidos – onde este texto é um dos mais solicitados em montagens escolares desde os anos 1980, fazendo dele parte do crescimento de mais de uma geração de fãs – mas para os demais públicos a maioria dos temas entoados soam muito parecidos e homogêneos, sem nada que os destaque um do outro. Mas o pior mesmo é o seu terço final da história, quando o argumento inicial encontra-se já solucionado e surge uma outra necessidade – envolvendo gigantes e princesas traídas – que se assemelha mais com uma necessidade de última hora do que algo planejado desde o princípio. Esta quebra interrompe seu ritmo de forma quase irreversível, determinando uma dificuldade da audiência em seguir ligado nos seus desdobramentos.

Mas nem tudo é frustrante, e se há algo a ser comemorado é a boa química entre praticamente todos os principais nomes do elenco. O destaque, claro, é a performance da veterana Meryl Streep, que como a Bruxa conquistou sua décima nona indicação ao Oscar – um recorde absoluto – agora como Atriz Coadjuvante. Sua inclusão neste ano ao prêmio máximo se deve mais ao seu nome e histórico do que pelo mérito exclusivo da interpretação aqui apresentada, ainda que não seja um total disparate – vê-la em cena, e num tipo tão exagerado e diabolicamente pernicioso, é quase um prazer culposo. Mas há mais, como a participação de Chris Pine como um dos príncipes encantados – a sequência da canção “Agony”, com ele e o outro príncipe disputando do alto de uma cachoeira qual é o mais “charmoso”, é impagável! Emily Blunt (indicada ao Globo de Ouro), como a esposa do padeiro, e Anna Kendrick, como Cinderela, são outras apostas certeiras. Por outro lado, é de se perguntar o que Johnny Depp (como o Lobo Mau) está fazendo aqui, com uma presença equivocada e totalmente descartável.

Em resumo, Caminhos da Floresta é muito menos do que se esperava, mas melhor do que os seus detratores tem apontado. Trata-se de uma produção de primeira linha, com um conjunto de atores comprometidos com seus personagens e com um cuidado técnico impressionante, desde os figurinos e a direção de arte até os efeitos visuais e edição de som. É um progresso, acima de tudo, para Marshall, que havia voltado ao gênero no controverso Nine (2009), mas está longe do seu melhor, como visto no oscarizado – e já citado – Chicago. O mundo de faz de conta das histórias de ninar pode ser muito divertido e permitir liberdades até então não imaginadas, mas essa mistura só funciona até certo ponto. Sabendo apreciá-la com as necessárias ressalvas, pode até ser que a liga funcione. É só não exigir demais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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