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Sinopse

Greta é chamada para cuidar de um garoto em uma mansão no meio do campo. Os pais, já idosos, são muito apegados ao filho, e a advertem que deverá seguir uma série de regras em relação ao menino. Porém, chegando lá, ela descobre que a criança é, na verdade, um boneco. Admirada, logo percebe que os donos da casa realmente o tratam como um garoto. Quando partem em uma viagem, deixando-a para cuidar do brinquedo. O que ela acaba não fazendo, e coisas estranhas começam a acontecer.

Crítica

O gênero de terror exige que o espectador se importe com as figuras em tela, para que então, possa torcer e temer por elas. Uma vez conseguido isso, não é necessário nem mesmo sustos, pois situações que coloquem esses personagens em perigo já são apavorantes em toda a sua duração. Infelizmente, a reputação dos filmes de horror cada vez mais fala sobre obras rasas e risíveis, ainda que alguns bons exemplares acabem salvando o gênero, como Invocação do Mal (2013), O Espelho (2013), The Babadook (2014) e Corrente do Mal (2014). O que parece ser o caso desse Boneco do Mal, que apesar de um primeiro ato promissor, logo começa a se entregar vergonhosamente a clichês do gênero, alternando entre o inteligente e o extremamente estúpido. Até que decide escolher um dos dois.

Remetendo a O Labirinto do Fauno (2006) e A Espinha do Diabo (2001), ambos de Guillermo del Toro, ao já abrir com um carro antigo que se aproxima de um lugar afastado e misterioso, o filme logo nos apresenta a Greta (Lauren Cohan), que veio da cidade grande para uma mansão no interior cuidar do filho de um casal de ricaços que está saindo de férias. O que não esperava, porém, era que o garoto, Brahms, fosse na verdade um boneco de cerâmica, a quem os pais tratam como uma criança de verdade. Listando uma série de regras que a moça deve seguir para agradar o menino, os dois deixam Greta completamente sozinha, a não ser pela companhia de Brahms e as ocasionais visitas de Malcolm (Rupert Evans), o comerciante local que vem trazer suprimentos toda semana.

Claro que ela não leva o assunto tão a sério – e quem levaria? – e passa a tratar o boneco exatamente como o que ele é: um brinquedo. E não demora até que algumas coisas estranhas passem a acontecer e Greta comece a suspeitar que realmente está convivendo com o espírito do falecido Brahms. O que não é contado de forma absurda, e a mera sugestão da inexistência de uma criança de verdade, quando o diretor William Brent Bell enfoca a protagonista de forma que ela parece ocupar o lugar do menino no quadro da família, já promete uma condução mais sofisticada. O que continua a ser cumprido quando o boneco é jogado por sua babá em uma cadeira, e Bell mais uma vez enquadra o brinquedo da maneira certa de modo que a sombra da chuva na janela em seu rosto pareça uma torrente de lágrimas.

Mas a sofisticação dura pouco e logo nos é enfiada goela abaixo uma sequência de pesadelo extremamente artificial que resulta em um susto tão previsível em sua concepção e aspectos técnicos – o som desaparece completamente – que é de se surpreender que o tenham levado adiante, já que sua preparação anula o próprio sentido de assustar. E até mesmo a boa ideia das lágrimas é trazida de volta como se o público fosse burro demais para não ter entendido antes, agora como uma goteira que pinga exatamente sobre o olho de Brahms, sugerindo suas lágrimas de verdade. Entretanto, William Brent continua a pincelar o longa com sacadas interessantes, como ao usar apenas a mudança do foco de luz no rosto do boneco para mudar também a sua expressão, ou ao sugerir uma cachoeira de sangue ao enquadrar um vestido vermelho que cai cascateando em câmera lenta, e ainda ao apresentar um personagem em particular, cuja periculosidade já havia sido anunciada antes, saindo das sombras com algo que pode usar como arma nas mãos.

Assim, é frustrante quando Bell volta a entregar mais uma cena de pesadelo e sustos que, na verdade, não existem, já que, se o espectador pula na cadeira, é devido aos terrivelmente batidos picos na trilha sonora. Mas a margem existe para que se espere ao menos uma resolução inspirada. Porém, apesar de criativo – e remeter a um certo filme de Wes Craven cujo próprio título iria entregar a surpresa desse – o desfecho se perde completamente ao tentar adotar uma abordagem de ação até então inédita no filme, se convertendo em uma série de perseguições que não inspiram qualquer tensão – pra exigir o mínimo do projeto, já que mise-en-scène parece um conceito antiquado para o diretor. O que deixa, enfim, clara a opção de Boneco do Mal pelo extremamente estúpido.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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