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Sinopse

Um menino é deixado num orfanato bem no meio da Guerra Civil Espanhola. Recebido com hostilidade pelos funcionários e pelas outras crianças, ele começa a receber a visita do fantasma de alguém que ali foi assassinado.

Crítica

Bons filmes de terror costumam se dividir em dois tipos: aqueles que usam os efeitos visuais como principal arma ao lado de um roteiro inteligente, ou outros, que carregam uma atmosfera dramática intensa em que o horror por si só, com alguma rara exceção especial em cena, se concentra nos sentimentos de seus personagens – sustentados, é claro, por uma história que faça sentido. Pois, A Espinha do Diabo se encaixa neste segundo estilo, em que os sustos fáceis dão lugar a uma atmosfera constante de suspense, o que provoca ainda mais medo e angústia no espectador.

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O cenário é um orfanato em plenos anos 1930, durante a Guerra Civil Espanhola e a ascensão do sistema ditatorial implantado no país. O protagonista é Carlos (Fernando Tielve), um garoto de 12 anos deixado pelo tutor no local que abriga filhos de combatentes até o fim dos conflitos. Seus gibis o tornam popular, o que causa a inveja de Jaime (Iñigo Garcés), o bad boy da turma, ao mesmo tempo em que ele precisa conquistar a simpatia da diretora Carmem (Marisa Paredes) e do professor e médico Casares (Federico Luppi). Mais do que tudo, Carlos dorme na antiga cama de Santi (Junio Valverde), garoto morto, também conhecido como “aquele que suspira”. E suas tentativas de solucionar o caso que envolve o espírito causarão frios na espinha.

A estrutura se assemelha muito a de O Sexto Sentido (1999), ainda mais pelo fato de termos um garoto que vê mortos (ou morto, no caso). Se o longa de M. Night Shyamalan já se sustentava muito mais pela dúvida que cercava a trama do que pelos potenciais sustos em si, no filme de Guillermo del Toro o mesmo ocorre. A primeira cena, com uma bomba explodindo, um garoto sendo supostamente espancado e outro chorando, irá marcar toda a história. Tudo tem conexão, especialmente com o quadrilátero amoroso entre Carmem, Casares e os jovens Jacinto (Eduardo Noriega) e Conchita (Irene Viseto), que não está presente no roteiro à toa. Muito pelo contrário. É preciso estar atento aos diálogos e às situações que se apresentam para que o público consiga montar o quebra-cabeça da forma mais plausível possível. Mesmo que, ao fim, a resolução do mistério seja menor do que a ansiedade provocada pelo desenvolvimento do roteiro bem amarrado.

O paralelo com a guerra que ocorre fora da instituição, a formação de um exército dentro do orfanato contra outro tipo de inimigo, talvez seja um dos principais e melhores motes do filme, já que é essa metáfora que conduz a história para suas soluções (ou não). Guillermo del Toro é hábil ao dar a corda para o espectador e depois puxá-la. Soltar pistas que podem ter a ver ou não com a morte de Santi, mas que, ao mesmo tempo, não são recursos que enganem quem está do lado de cá da tela. Pelo contrário. Tudo é milimetricamente calculado, sem pontas soltas.

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A direção do cineasta é ainda mais eficiente ao colocar no mesmo patamar veteranos como Paredes e Luppi e atores mirins, inexperientes na época. A união de talentos reforça ainda mais a qualidade da obra, que por si só já merecia belas notas. O embate e a consequente união de sensibilidade, ingenuidade, cinismo e amadurecimento se reflete na iluminação, na fotografia sabiamente executada que alterna momentos de luz e sombras, num jogo visual que intensifica ainda mais os sentimentos aflorados durante a projeção. Uma bela obra que joga o terror para o lado do público, sabendo espantá-lo e causar empatia na mesma medida.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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