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Sinopse

O plano de Constantine Nikas era assaltar um banco e descolar uma boa quantia em dinheiro, mas nada sai como o planejado e seu irmão mais novo acaba sendo preso. Decidido a resgatá-lo, Constantine embarca em uma perigosa corrida contra o relógio, da qual ele mesmo é o próximo alvo da polícia.

Crítica

A proximidade entre a câmera e os personagens em Bom Comportamento é sintomática da vontade dos irmãos Josh e Benny Safdie de privilegiar o impacto. Não obstante a primeira cena, na qual Nick (Benny Safdie) é visto numa interação que denota seus problemas de ordem mental, boa parte das subsequentes também é marcada por essa clausura num quadro restrito às reações imediatas. No centro da trama, uma família fragmentada, com o primogênito, Connie (Robert Pattinson), fazendo de tudo para incluir o caçula, que demanda cuidados especiais, até nos negócios escusos como assaltos a bancos. Durante a fuga, algo dá errado, numa sucessão de infortúnios que atravessa os momentos de evasão, e o mais vulnerável vai parar na cadeia. O ritmo é frenético, numa dinâmica potencializada pela trilha sonora que se encarrega de ampliar a gravidade e a urgência dos instantes imediatamente posteriores à deflagração de uma situação absolutamente crítica.

Bom Comportamento é aferrado ao seu ideal estilístico, mantendo-se fiel a ele. Há um privilégio da fisicalidade, das respostas instintivas aos reveses que estofam o filme de instabilidade. A ação é quase totalmente centralizada em Connie, bandido pé-de-chinelo imbuído da missão de tirar logo o irmão mais novo do cárcere. É necessária, porém, uma boa dose de suspensão da descrença para embarcar nos desdobramentos do plano de resgate, com peripécias acontecendo tranquilamente embaixo do nariz da polícia, da equipe hospitalar e dos seguranças do local. Os Safdie apostam na prevalência da tensão, oriunda da habilidosa construção cinematográfica, aparentemente não se importando com as inconsistências do roteiro. Todavia, tal característica ressurge ao longo da progressão dramática, expondo a debilidade da trajetória que dá conta do fiapo de enredo. Uma nova trapalhada – essa, sim, difícil de engolir – propicia a virada que enfraquece o âmbito familiar.

O acúmulo de contratempos e erros sobressai em Bom Comportamento, sobrepujando qualquer representatividade dos subtextos levemente instaurados. A relação entre os irmãos deixa de ser o mote da jornada, sobretudo a de Connie, a partir do ponto em que este comete um erro capital, logo tendo como companheiros Crystal (Taliah Webster), menor de idade, e Ray (Buddy Duress), igualmente bandido, tragado para a espiral de equívocos. Outros personagens cruzam o caminho do então protagonista, essencialmente expondo sua inabilidade para lidar com cenários extremos. Gradativamente, o longa-metragem perde relevância, uma vez anestesiado pela opressão que a forma exerce sobre o conteúdo, deixando exposta flagrante inocuidade, pois mesmo a qualidade da montagem, da encenação e da instância sonora não são suficientes para segurar completamente nossa atenção, porque o estofo basicamente é frágil.

Determinadas figuras, como Corey (Jennifer Jason Leigh), são meros penduricalhos do percurso errático de Connie, não o alterando substancialmente. A despeito da energia narrativa, do apurado senso estético demonstrado pelos irmãos Safdie, falta espessura dramática a Bom Comportamento, no mais das vezes um exemplar apenas competente de um tipo de cinema melhor fruído sensorialmente, que investe na erupção da brutalidade para compensar as incongruências do itinerário. No que concerne às atuações, o trabalho de Robert Pattinson se destaca, não somente porque seu protagonista está em cena quase integralmente, mas pela excelência de sua concepção de um homem sofrendo o pão que o diabo amassou para safar-se. Valendo mais pela construção cinematográfica, evidentemente esmerada e engenhosa, o filme deixa a desejar quando disposto a encarar os temas postos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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