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Sinopse

Marinalva é uma aspirante a atriz que começa a dialogar com seu porco de brinquedo. O artefato suíno a encoraja a se separar do marido, basicamente por acreditar que o homem não a apoia na luta por seus sonhos.

Crítica

É praticamente impossível que qualquer pessoa que tenha visto algum dos trabalhos anteriores do diretor José Eduardo Belmonte, como o impactante Se Nada Mais Der Certo (2008), reconheça seu estilo tão pessoal neste Billi Pig, uma bobagem gigantesca em que tudo parece estar deslocado, dos personagens aos figurinos, da trama aos diálogos. Trata-se de uma comédia sem a menor graça, cujas únicas risadas que consegue arrancar são aquelas nervosas de constrangimento. E o mais bizarro: de todo o elenco, a melhor em cena é Grazi Massafera, uma ex-participante do Big Brother Brasil! Ela, mesmo tentando defender o personagem mais mal resolvido de todos, ao menos possui uma luz própria, um quê de estrela que ilumina a tela com carisma e simpatia a cada aparição. Dos demais, é praticamente um concurso pra ver quem provoca mais vergonha alheia. Mas nada supera Belmonte, que ao abandonar o registro habitual dos seus dramas intensos e focados nas periferias perde a mão ao tentar produzir algo mais comercial. O que serve como consolo – este filme mostra, com força – é que esta não é, de fato, a sua praia.

Selton Mello (seguindo ladeira abaixo, após o tenebroso Reis e Ratos, e muito longe da excelência demonstrada no ano passado com o ótimo O Palhaço) é Wanderley, um vigarista que faz de tudo pela felicidade de sua mulher, Marivalda (Grazi). Ela quer ser uma estrela, atriz de cinema e televisão, porém seu nível de amadorismo chega a ser perturbador. Por isso ele resolve se associar a um padre picareta (Milton Gonçalves) para, juntos, tentarem salvar da morte a filha de um poderoso traficante (Otávio Müller, que fazia par com Selton no já citado desastre Reis e Ratos). Os dois prometem um milagre, e por ele exigem uma verdadeira fortuna – tudo para oferecer à Marivalda a chance de realizar seu sonho. Mas ambos não possuem a menor ideia de como curar a menina e nem do que acontecerá aos dois caso não cumpram o prometido.

A suposta pegada do filme é o tal Billi Pig do título, um porco de brinquedo que serve como confidente da protagonista. Mas o bicho é muito menos um Grilo Falante (ou seja, uma voz da consciência, que ouve, lhe aconselha e orienta) e mais um pequeno pestinha que serve apenas para distorcer tudo e provocar confusões. É ele que diz para ela abandonar o marido ou permanecer em troca de uma vida melhor. Mas espere um pouco? Ela não queria ser atriz e ganhar um Oscar? Como aceita trocar isso por uma hospedagem num hotel cinco estrelas? E pior, o que anunciava ser o diferencial da história logo se perde, e o porco é simplesmente deixado para trás. A ação continua, mas ele não faz mais parte dela. E ninguém parece sentir a menor falta. Agora, se assim – sem ele – o ritmo até funciona melhor, qual a razão deste título?

Billi Pig se perde ainda em histórias paralelas – quem chamou a Preta Gil? E qual o sentido daquelas duas secretárias sem noção além de tentar provocar um riso de deboche e de baixo calão? – que contribuem na sensação geral de que o roteiro é o maior dos defeitos dessa produção. Isto se tal ferramenta realmente chegou a ser utilizada, pois a impressão que se tem é de que nada faz muito sentido – sensação reforçada pelo final ex-machina, muito fácil de recorrer quando tudo já está perdido mesmo e ninguém mais parece se preocupar em salvar o barco. Tolo, vazio e tedioso, este é um dos mais perfeitos exemplos da atual crise do cinema brasileiro, em que os realizadores gastam muito em elefantes brancos que não buscam se comunicar com o público, atendendo apenas aos próprios egos. Enquanto o sistema patrocinado pelo governo tão em voga em nosso país não for revisto, desperdícios como esse se tornarão cada vez mais frequentes, e tudo com o dinheiro dos nossos impostos. Vergonhoso, do início ao fim, é o mínimo que pode ser dito.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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