Crítica


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Sinopse

Uma carismática sem-teto chama a atenção da equipe de um documentário. Eles decidem explorar sua história em um filme independente, ambientado em um conto de fadas moderno e urbano, dentro de um ideal de família despedaçado.

Crítica

Reencontrar alguém depois de muito tempo ou voltar a um lugar da nossa infância, já na vida adulta, costuma causar um choque. Pessoas e paisagens mudam, mesmo que conservem a sua essência. O diretor macedônio Milcho Manchevski encantou o mundo com Antes da Chuva (1994), produção que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e agora, em 2017, lança seu mais novo trabalho na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Bikini Moon é a prova de que Manchevski não é mais o mesmo e, em consequência, o seu cinema foi transformado.

É bem provável que o espectador tocado pela poesia da história de três amores permeados pela tragédia lá nos anos 90 tenha dificuldade para se entregar à trama de Bikini Moon, e o motivo não é apenas a mistura de técnicas de filmagem. Valendo-se da metalinguagem, o popular filme dentro do filme, o cineasta nos apresenta à equipe que procura certo personagem para um documentário num abrigo de Nova York. Entre os muitos rostos, um se destaca. Bikini, interpretada por Condola Rashād, se diz veterana de guerra e é visível a sua perturbação. A sinceridade dos comentários e as histórias que conta sobre sua experiência na guerra são cativantes. Estamos nos primeiros minutos de filme e tudo indica que teremos uma protagonista forte, cuja trajetória será retratada de forma crua e realista. O diretor, Trevor (Will Janowitz), tem ressalvas quanto a Bikini ser o centro de sua realização, mas a insistência da namorada e produtora Kate (Sarah Goldberg) o faz ceder.

Fica claro, a partir deste momento, que o real interesse de Kate é ajudar Bikini, não somente filmá-la. Sua preocupação maior é melhorar a relação dela com a filha e garantir que suas mudanças de humor sejam mais amenas. O problema é que tal ajuda abre a porta do clichê dentro de Bikini Moon. Manchevski introduz vídeos de quedas e acidentes populares na internet e em alguns momentos a própria protagonista maneja a câmera. Há indícios de que o diretor quer fazer uma crítica aos documentários pretensamente imparciais e até mesmo à forma como a mídia lida com imagens amadoras, tão populares nesses tempos de smartphones. Porém, nem uma coisa, nem outra tem resultado. Bikini, que poderia ser um rompimento, alguém que não concorda em ter a vida guiada por um cineasta, perde o brilho do meio para o final. Até a fina ironia de seus diálogos enfraquece. Quando Trevor trai Kate com ela, aí sim a coisa descamba. As atuações, até então convincentes, tornam-se caricatas e os múltiplos tipos de imagem – celular, câmera do filme de Trevor e câmera do filme de Manchevski – surgem sem uma ordem clara. É o passo que falta para o espectador se dispersar e perder a pouca confiança que tinha nos personagens.

Bikini Moon parece incompleto e, ao mesmo tempo, um conjunto de propostas e roteiros infindável. A aparente boa construção da protagonista não se mantém nas quase duas horas do filme, que perde ainda mais a credibilidade e a simpatia do público quando atitudes impensadas ganham comentários em formato de depoimentos. Se Manchevski queria unir um bom drama crítico aos reality shows a outras propostas de levar a dita realidade às telas, grandes e pequenas, houve um desequilíbrio. Não conseguiu nem uma coisa, nem outra e perdeu a oportunidade de criar uma obra mais humana e realmente em sintonia com os nossos tempos.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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