Crítica


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Sinopse

Um jovem brasileiro de ascendência africana em busca de completar uma missão que reverbera em seu povo.

Crítica

O diretor João Daniel Tikhomiroff não é um novato no mundo cinematográfico. Experiente profissional da publicidade, desde os anos 70 já se aventurava na sétima arte – em 1974 dirigiu o curta Missa do Galo, com Fernanda Montenegro! Mas foi somente agora, quase 40 anos depois, que resolveu se arriscar num projeto maior. E Besouro é uma estreia que justifica esta espera! Combinando efeitos especiais de última geração, um argumento interessante e conectado com a realidade brasileira e um bom trabalho de preparação de atores, ele conseguiu entregar um filme dignamente nacional mas que em nada fica a dever a outras produções internacionais do gênero.

Besouro conta a história do mais famoso capoeirista brasileiro, uma figura heróica e digna de mitos e lendas. Este personagem realmente existiu, e ganhou destaque ao lutar contra a opressão aos negros no Recôncavo Baiano no começo do século XX. Manoel Henrique Pereira ganhou o apelido de ‘Besouro’ quando começou a praticar capoeira. Sua escolha pelo inseto revela suas intenções: “se um bicho preto e grande consegue voar, mesmo com essas asas minúsculas, eu também conseguirei realizar feitos inexplicáveis”. E assim o fez. Besouro tinha apenas 24 anos quando morreu, mas até lá aprontou muito e garantiu seu lugar nas lembranças de todos os que o conheceram. Mestre capoeirista, enfrentou os brancos que ignoravam a Lei Áurea e mostrou que seu povo poderia ter não só vontade e anseios iguais aos de todo mundo, mas também uma cultura própria e igualmente rica.

Tikhomirof, além de dirigir e produzir, também foi responsável pelo roteiro deste seu primeiro trabalho em longa-metragem. E ele se certificou de estar ao lado dos melhores em todas as áreas. Patrícia Andrade (2 Filhos de FranciscoSalve Geral) foi co-roteirista ao seu lado, enquanto que a impressionante fotografia, quente e dinâmica, ficou à cargo do equatoriano Enrique Chediak (Extermínio 2, Uma Casa no Fim do Mundo). Mas surpreendente mesmo foi o trabalho desenvolvido pelo coordenador de artes marciais chinês Huen-Chiu Ku – que possui em seu currículo títulos de peso, como Máquina Mortífera 4, O Tigre e o Dragão, Kill Bill e A Múmia – Tumba do Imperador Dragão. E esta experiência adquirida no cinema oriental e hollywoodiano se adaptou com tranquilidade à agilidade e ao visual buscado pelo diretor, que com estes apoios conseguiu criar uma trama à altura da figura histórica escolhida.

Bem recebido pelo público, Besouro teve também uma recepção calorosa junto à crítica, que apontou o enredo bem amarrado, os cuidados técnicos e o elenco competente como suas maiores qualidades. Dentre os intérpretes, destaque maior para o protagonista Aílton Carmo, ele próprio professor de capoeira que nunca havia atuado antes. Jéssica Barbosa (Dinorá) e Anderson Santos de Jesus (Quero-Quero), que completam o triângulo amoroso central, também oferecem uma estrutura dramática forte e hábil diante as emoções percorridas. Este é um filme brasileiro com orgulho de sua origem, desde o assunto abordado até a forma como ele chega à tela grande, e que possui méritos suficientes para fazer bonito em qualquer canto do mundo. Sorte daqueles que se derem conta disso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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