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Sinopse

O imperador romano Júlio César sempre quis derrotar os irredutíveis gauleses, mas jamais teve sucesso em seus planos de conquista. Até que, um dia, resolve mudar de estratégia. Ao invés de atacá-los, passa a oferecer aos gauleses os prazeres da civilização. Desta forma, ordena a construção do Domínio dos Deuses, um conjunto de edifícios, ao redor da vila gaulesa para impressioná-los, e, assim, convencê-los a se unirem ao império romano.

Crítica

Exibido pela primeira vez no Brasil durante o Festival Varilux 2015, Asterix e o Domínio dos Deuses é nono longa-metragem animado com os clássicos tipos criados por René Goscinny e Albert Uderzo, cuja estreia foi com Asterix: O Gaulês (1967), há quase meio século. É, no entanto, o primeiro desde Asterix e os Vikings (2006), lançado há exatamente uma década – isto, claro, se deixarmos de fora os quatro filmes com atores, cujo último foi Asterix e Obelix: A Serviço de sua Majestade (2012). No todo, portanto, temos treze produções, o que serve como indicativo claro da força destes personagens, principalmente na França, seu país de origem. Felizmente, a maioria destes títulos encontram-se disponíveis no Brasil, porém com bem menos destaque do que produções similares vindas de Hollywood. E se este servir como porta de entrada para este universo, sua missão estará mais do que cumprida.

Ainda que tenha sido ignorado no César – o Oscar do cinema francês, que reconheceu o sensível Minúsculos: O Filme (2014) e indicou ainda A Canção do Oceano (2014) e Jack e a Mecânica do Coração (2013) como finalistas daquele ano – esse Asterix e o Domínio dos Deuses chegou às telas com ares de superprodução, com orçamento de € 30 milhões e tecnologia 3D (o primeiro da série a investir nesse conceito). E o público respondeu à altura, investindo mais de US$ 7,6 milhões apenas na primeira semana de exibição. Resultado à altura do empenho dos diretores Louis Clichy (estreante na função, porém animador de títulos como Wall-E, 2008, e Up: Altas Aventuras, 2009) e Alexandre Astier (ator de Um Reencontro, 2014). Os dois, também autores do roteiro ao lado de Jean-Rémi François e Philip LaZebnik (roteirista de Pocahontas, 1995, e Mulan, 1998), basearam-se na trama do 17° livro da série, lançado em 1971. Mais de quarenta anos se passaram, a é surpreendente descobrir o quão atual a história permanece.

Indignado por não conseguir derrotar os irredutíveis gauleses, César tem uma ideia aparentemente brilhante: se não pode vencê-los num confronto direto – afinal, a poção mágica do druida que dá superforça aos habitantes da pequena vila ao norte da Gália segue insuperável – a solução é obrigá-los a se mudar por conta própria. E como fazer isso? Seguindo o velho lema: “os incomodados que se retirem”. Assim, levantam-se intermináveis condomínios ao redor da aldeia, povoando-os com civis e seus hábitos mais insuportáveis: brigas por mesquinharias, comércios irregulares, crianças choronas, pais irresponsáveis, discussões de vizinhos. Além disso, a sensação de ‘modernidade’ que as aparentemente poderosas construções oferecem num primeiro momento acabam seduzindo até mesmo a maioria dos gauleses, que se sentem tentados a experimentar a novidade. Asterix é o único que permanece defendendo o lar de todos, mas ele sozinho talvez não seja capaz de suportar tamanhas pressões por muito tempo.

Divertido e dono de uma dinâmica muito própria, Asterix e o Domínio dos Deuses – este é, aliás, o nome dos prédios populares ofertados por César – prende a atenção do início ao fim, seja pelas inúmeras gags visuais que presenteiam os mais inveterados fãs deste humor tão característico – como os piratas, os soldados sem motivação ou a caça aos javalis – como também surpreende pela história enxuta e envolvente que constrói, repleta de reviravoltas, segundas intenções e desfechos inesperados. Brincando com arquétipos bem definidos, sem deixar de lado o colorido infantil e muito menos uma profundidade mais adulta, esta é uma obra que deixaria seus criadores orgulhosos do resultado, ao mesmo tempo em que deve servir para estimular os recém chegados a irem atrás de novas e talvez mais incríveis aventuras. Opções para isso é que não faltam.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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