Crítica

De uns anos para cá, Sophie Marceau se tornou ainda mais queridinha dos franceses. Próxima dos seus 50 anos, a atriz tem investido em papeis que trazem questionamentos e abordagens que revelam um pouco mais da mulher da sua própria faixa-etária em algumas comédias românticas. Um Reencontro é mais um título em sua filmografia que reforça essa ideia de diversidade e que vai de encontro às atuais manifestações que tomam conta de Hollywood para melhores papéis que representem a figura feminina de forma mais ampla.

Reprisando sua parceria com a diretora e atriz Lisa Azuelos, iniciada em Rindo à Toa (2008), Marceau é Elsa, uma escritora divorciada e mãe de dois adolescentes. Em uma festa ela é apresentada a Pierre (François Cluzet), um advogado casado e apaixonado pela esposa. Nossa protagonista tem como regra não se envolver jamais com homens casados, porém um sentimento inexplicável e recíproco surge. Se baseando no conceito da física quântica em que dois átomos podem estar em lugares totalmente diferentes ao mesmo tempo, passado e futuro se misturam mostrando o leque de possibilidades que as escolhas do casal poderia trazer ao relacionamento.

Azuelos encara sua direção de forma dinâmica, trazendo uma montagem esperta que demonstra os aspectos de simultaneidade entre o casal, embalada por uma boa trilha sonora. As atuações de Cluzet e dos coadjuvantes (incluindo a própria Azuelos) são boas, mas quem realmente rouba a cena é Marceau, mesmo frente a um filme que parece ameaçar concretizar algo sem nunca fazê-lo, bem como a relação impossível entre os protagonistas. A intérprete e sua diretora ganham, no entanto, ao trazer as complexidades de uma mulher que chega a sua maturidade encarando a vida com uma perspectiva diferente, principalmente no que diz respeito aos seus relacionamentos.

Dentro do cinema norte-americano, produções voltadas às mulheres acima dos 40 anos são escassas e, quando surgem, são meramente pontuais. Porém, o que parece ser problemático na América, para quem está do outro lado do Atlântico se revela em uma oportunidade de explorar tais complexidades com delicadeza. Se Azuelos não consegue uma obra-prima, pelo menos é hábil em observar as diversas facetas de uma mulher que poderia muito bem representar várias outras e impulsionar ainda mais a importância das protagonistas na tela grande, exatamente como faz com esta vivida por uma apaixonante Marceau.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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