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Sinopse

Arthur Bishop é um atirador de elite que trabalha como assassino profissional. Ele deseja se aposentar, mas antes quer treinar alguém para ocupar seu lugar. Quando seu grande amigo Harry McKenna é morto, vai ao enterro e lá encontra o filho dele, Steve. Bishop vê no jovem a pessoa ideal para ser seu sucessor e resolve lhe ensinar suas técnicas.

Crítica

Charles Bronson foi um dos grandes astros do cinema de ação em Hollywood, e talvez um dos primeiros da meca de cinema a ter ficado realmente milionário nessa atividade. Aqueles que o conheceram apenas no final da vida, quando experimentava a decadência de produções feitas diretamente para a televisão ou as intermináveis sequências de seu maior sucesso, o inigualável Desejo de Matar (1974), talvez não façam ideia que é por causa dele que anos depois nomes como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e toda a turma presente da trilogia Os Mercenários conquistaram seu espaço. Bronson foi o pioneiro, o desbravador. E se conquistou esse posto, muito foi por causa de títulos como Assassino a Preço Fixo, que marcaram na tela sua imagem fria e determinada, porém nunca menos do que humana.

Segundo dos seis filmes que Bronson fez sob o comando do diretor Michael Winner (que seria responsável, além do original já citado, também por Desejo de Matar 2, 1982, e Desejo de Matar 3, 1985), Assassino a Preço Fixo é um longa diferenciado. E isso se percebe logo no início, quando somos convidados a acompanhar a rotina do protagonista, um matador profissional, durante um dia enquanto prepara o cenário para sua próxima vítima. São 16 minutos de silêncio absoluto, sem nenhum diálogo, em que presenciamos passo a passo de um homem meticuloso e bastante seguro de seus objetivos. Ele observa sua vítima a uma distância segura, analisa todas as possibilidades e somente quando está ciente das variáveis envolvidas é que parte para ação. E o caminho escolhido não será o mais rápido ou instantâneo: ele está disposto a esperar o quanto for preciso até que todas as peças se encaixem de acordo com sua vontade.

Após essa apresentação memorável do personagem, através da qual se diz muito sem o uso de uma única palavra, não restam mais dúvidas ao espectador: este é um homem que, ainda que dono de atitudes reprováveis, será impossível torcer contra. Ele não hesita nem mesmo quando recebe como missão eliminar um dos seus melhores amigos, o tutor mais velho que foi companheiro de seu pai e que lhe ofereceu a compaixão necessária quando a figura paterna se recusava a assumir tal posição. O psicologismo desta figura se aprofunda através de um rosto duro, de expressão constante e fala que dificilmente altera o tom. Ele é a segurança do serviço bem feito, independente do quadro apresentado. Isto, é claro, até que um ponto de controvérsia e desequilíbrio se faça presente.

E este surge no sorriso e juventude de Steve McKenna (Jan-Michael Vincent, que no ano anterior fora indicado ao Globo de Ouro como coadjuvante por A Mancha do Passado, 1971), filho do antigo colega e que, desconhecendo o fato deste ser o responsável pela morte do seu pai, decide tomá-lo como mestre, numa repetição quase involuntário dos fatos. Arthur Bishop (Bronson) pode ser o mesmo por dentro, mas os anos estão passando e ele sabe que não é mais um garoto. Ter um aprendiz pode ser um jogada arriscada, mas também é a certeza da continuidade de tudo que realizou até aquele momento. Envolvidos pelo sentimentalismo dessa conjectura em particular, os dois começam a trabalhar juntos. Uma união com data certa para acabar.

O título adotado no Brasil é curioso, pois Assassino a Preço Fixo pouco quer dizer a respeito dessa trama – mal se fala a respeito de valores financeiros, quanto mais chega-se a discutir sobre deles. Mais interessante é se focar no batismo original – The Mechanic – que faz referência ao protagonista, um mecânico que surge para consertar coisas fora do eixo e, assim que o trabalho é executado, desaparece sem deixar pistas. Tê-lo alguém consigo é um distúrbio que ameaça esta equação, e justamente por isso a parceria entre eles não deverá vingar. E se por um lado o mais jovem possui a energia e a vivacidade ao seu lado, o outro conta com a experiência de anos para saber que, às vezes, é possível rir por último mesmo após ser descartado de modo irreversível. Charles Bronson marcou época, e aqui está um bom exemplo de como não se fazem mais heróis como antigamente. E se naquela época tal constatação já era verdade, imagine hoje, mais de quarenta anos depois!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Cecilia Barroso
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MÉDIA
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