Crítica
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Sinopse
Em Assalto à Brasileira, quando um jornalista desempregado é feito refém em um assalto a banco, ele enxerga na situação a oportunidade de retomar seu emprego com um furo de reportagem. Mas, para isso, vai precisar sobreviver aos criminosos, à incompetência policial e à sua própria ambição. Crime.
Crítica
No dia 10 de dezembro de 1987, ainda pela manhã, sete homens armados invadiram uma agência bancária na cidade de Londrina, no interior do Paraná. Para entender o peso desse episódio, se faz necessário um contexto: era o auge da hiperinflação no Brasil, quando os preços dos alimentos nas prateleiras dos supermercados, por exemplo, de manhã eram uns, e à noite outros – superiores, é claro. O povo clamava por algum tipo de descanso, justiça, mudança. O episódio que ficou conhecido como O Ataque à Agência do Banestado marcou a crônica da época. Mesmo assim, levou-se anos para que fosse adaptado de forma ficcional no cinema. Essa demora é parcialmente sanada com Assalto à Brasileira, décimo sexto longa-metragem assinado por José Eduardo Belmonte, um dos realizadores nacionais mais constantes nas telas, ainda que irregular nos resultados apresentados. Felizmente, o que agora apresenta está mais para Se Nada Mais Der Certo (2008) ou Alemão (2014) e menos para Billi Pig (2012) ou Uma Família Feliz (2023), por mais que, na maior parte do tempo, transite entre estes extremos. Se por um lado ganha pontos pelo resgate de um caso que não merecia a obscuridade, por outro se revela claudicante em assumir um ritmo a perseguir, indeciso entre o thriller policial e a comédia de costumes.
Ao contrário de clássicos do gênero, como Um Dia de Cão (1975), ou mesmo tentativas locais, como Assalto ao Banco Central (2011), não são os bandidos os protagonistas de Assalto à Brasileira. Quem carrega essa responsabilidade é o jornalista Paulo, personagem de Murilo Benício. O dia não começou legal para ele. Daqueles apegados à máquina de escrever – lembre-se, nem computadores existiam – mas com cada vez mais desânimo (ou preguiça mesmo) para ir às ruas em busca de notícias, acabou demitido pela editora que imaginava ser sua amiga. Segunda ela, a decisão é para o próprio bem dele: “quem sabe assim você recupera a energia que um dia já serviu de exemplo para toda a redação?”. Só não precisava ser tão imediata essa lição. Pois ao recolher suas coisas e deixar o jornal por onde trabalhou por anos, é para a agência bancária mais próxima que se dirige no intuito de descontar o cheque com o valor da rescisão. O mesmo destino dos outros personagens já citados nessa história. A diferença entre eles, no entanto, é que Paulo tinha um plano. Já os assaltantes estavam munidos de muita coisa, menos da ciência do que fazer assim que a ideia deles entrassem em movimento. Era aquele tipo de coisa fácil de dar o primeiro passo, mas que ninguém sabe ao certo onde – e como – parar.

O bando liderado por Moreno (Christian Malheiros, trazendo para o cinema muito da composição segura exibida na série Sintonia, 2019-2025) e Barba (Robson Nunes, deixando de lado o humor dos seus trabalhos mais populares para investir num desenho mais objetivo – não por acaso, o seu destino será diferente dos demais colegas de ação) é o retrato da incompetência que se refletia também pela população brasileira: sabiam o que queriam, mas não tinham noção sobre como manifestar tais demandas. Não surpreende, portanto, a inversão que esse episódio obteve ao chegar ao conhecimento geral: a multidão que se aglomerava no outro lado da rua, em frente ao estabelecimento bancário, assim como os milhões que acompanharam o episódio pela televisão, passaram a torcer pelos bandidos, vendo neles a atitude que o país inteiro ansiava por tomar. A polícia, por outro lado, liderada pelo comandante Fonseca (Paulo Miklos, sem muitas oportunidades), resvala na mesma inadequação para lidar com o que ocorre diante de si, seja pelo despreparo do efetivo presente, como pelo total ineditismo dos eventos. A única pessoa com alguma ciência do que fazer, portanto, é o jornalista que por acaso se mostra a pessoa certa no local errado. Tanto para si, como para todos os demais.
Murilo Benício se confirma como um camaleão diante das câmeras, a ponto do espectador lamentar não o ver com tanta frequência nas telonas. O desprendimento com o qual agarra essa oportunidade encontra simetria no mesmo despojamento do personagem, interessado e interesseiro no que se desenvolve ao seu redor tanto para sua própria carreira, como para os efeitos sociais que a partir dali poderão ser gerados. Belmonte entende que deixar seu filme nas costas desse protagonista é a decisão acertada, e assim o faz deliberadamente. Ao mesmo tempo, oferece pouco espaço para outras nuances, como o reflexo na opinião pública, as diferenças visíveis entre os demais integrantes da quadrilha (a maioria não vai além do estereótipo, reduzindo suas participações a meros alívios cômicos) e deixando de lado talentos que certamente poderiam ter sido melhor aproveitados, como Augusto Madeira, Ariclenes Barroso, Vertin Moura, Fernanda de Freitas, Debora Duboc e até mesmo o ex-vj Thunderbird, estreando como ator em um tipo de uma piada só, ficando aquém da expectativa levantada naqueles que o reconhecerem. Enfim, Assalto à Brasileira tem em seu discurso elementos válidos na época do ocorrido que seguem ressoando com força até hoje, envoltos por um conjunto coeso e de fácil fruição. Mesmo que deixe passar durante esse percurso alguns elementos que ansiavam por uma maior profundidade no seu desenvolvimento. Ainda assim, cumpre sua função, tanto de entretenimento, como de registro histórico. O que já é mais do que vários dos seus similares têm alcançado com seus (parcos) esforços.
Filme visto durante o 58º Festival de Brasília, em setembro de 2025
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