Crítica
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Sinopse
Carol Danvers está carregando o fardo de um universo instável depois de recuperar a sua identidade dos tirânicos Kree e se vingar da Inteligência Suprema. E um evento estranho conecta seus poderes a duas outras mulheres.
Crítica
Menos obra do acaso – como muitos chegaram a ter a impressão – e mais resultado de uma estratégia calculada, o longa solo da Capitã Marvel (2019) chegou aos cinemas logo após o impacto estrondoso de Vingadores: Guerra Infinita (2018) – e pouco antes do muito antecipado Vingadores: Ultimato (2019). E por quê é importante essa questão cronológica? Pois, ao se situar entre dois petardos que faturaram, cada um, mais de US$ 2 bilhões nas bilheterias de todo o mundo, a primeira aventura estrelada por uma super-heroína indiscutivelmente se beneficiou dessa expectativa exacerbada, resultando em inacreditáveis US$ 1,1 bilhão de arrecadação! O tempo passou – quase meia década – e a situação em que a sequência As Marvels se apresenta é bastante diferente. A protagonista Brie Larson há muito deixou passar a “febre Oscar” (desde então, não estrelou nenhum outro projeto de impacto, seja junto ao público, e menos ainda com a crítica) e mesmo suas agora colegas – Teyonah Parris, como Monica Rambeau, e Iman Vellani, no papel de Kamala Khan – são pouco mais do que meras desconhecidas (ou, na melhor das hipóteses, revelações promissoras), ao contrário de nomes consagrados como Annette Bening ou Jude Law, que a acompanharam na incursão anterior. Com tanto jogando contra, seria quase impossível não se deparar com um sentimento de frustração. Algo que, no entanto, se mostra infundado, pois o que se vê em cena é tão divertido quanto irrelevante, tal qual seu antecessor.
Assim como tem se repetido no Universo Cinematográfico Marvel, mais uma vez se percebe que os heróis não são, enfim, infalíveis. Na tentativa de salvar uma raça inteira – no caso, os krees – a Capitã Marvel acabou por condená-la à danação eterna, extinguindo os recursos do planeta em questão. Eis, portanto, a consequência dos seus atos impensados. Dar-Benn (Zawe Ashton, de Velvet Buzzsaw, 2019) assume para si a responsabilidade de recuperar o que dela e dos seus foi roubado, não se importando com quem – ou quantos – terá que aniquilar pelo caminho. Veja bem, não se trata de uma vilã tradicional: ela não é má, apenas quer vingança. Foi provocada, e está disposta e romper limites e quebrar barreiras de boa conduta e civilidade em nome de uma sonhada sobrevivência – e não apenas a sua, mas de toda uma comunidade. Num gênero que construiu suas bases com cores muito sólidas, é sempre bem-vindo se deparar com figuras intermediárias, com as quais se pode até reprovar os atos, ainda que se entendam suas razões – e até mesmo se permita gerar empatia por eles.
Para tanto, Dar-Benn irá recorrer a uma arma perdida, o tal bracelete que só há um outro no universo – aquele mesmo usado (e como fonte dos poderes) da Miss Marvel (Vellani, cuja única experiência prévia é... a série Ms. Marvel, 2022). Partindo de uma explicação frágil, que em nenhum momento consegue se sustentar sozinha, no instante em que a antagonista coloca as mãos no artefato por ela almejado, um portal se cria, gerando uma inesperada conexão entre as três heroínas cujas habilidades especiais estão conectadas pela mesma fonte. Assim, Kamala, Rambeau e Carol Danvers (a Capitã Marvel em pessoa) passarão a se intercalar, trocando de posições a cada uso dos dons que lhes compete. É como se estivessem ligadas a um canal bastante específico, tornando-as, ao mesmo tempo, tão longe e tão próximas. Porém, somente quanto aprenderem a fazer uso dessa nova condição – e encará-la como uma vantagem, e não mais um problema – é que poderão, enfim, agir em conjunto e fazer frente à inimiga que se apresenta.
É interessante perceber como nenhuma das três protagonistas chega a ter uma trama particular minimamente desenhada. Todas são meros arquétipos, figuras coloridas colocadas umas ao lado das outras mais para reagirem do que para gerarem qualquer tipo de ação. É a menina de origem asiática e modos atrapalhados, a jovem afrodescendente de olhar determinado e a loira de penteado sistematicamente perfeito na liderança, como um esforço ordenado a uma inteligência artificial, e não algo orgânico ou sequer improvisado. Eis, enfim, a característica mais latente deste projeto: por mais que tenha mantido a assinatura da diretora Nia DaCosta (A Lenda de Candyman, 2021), é perceptível ser esta uma obra acéfala, sem ímpeto criativo em sua realização, se mostrando como fruto dos interesses comerciais dos produtores, que visam não mais do que algo genérico e nada marcante. Tudo está no seu devido lugar, mas pouco se mostra particularmente original ou mesmo inovador. O dilema se apresenta, de uma forma ou de outra os obstáculos são superados e, quando não há mais o que ser feito, o final feliz ganha vez, sem gerar preocupações ou dores de cabeça. E quando os créditos se apresentam, tudo segue igual a antes, ausente de repercussões ou maiores impactos.
Brie Larson segue com o mesmo carisma tão particular que, pelo jeito, apenas os norte-americanos conseguem entender, pois o verdadeiro mistério é tentar justificar como alguém pode ter visto na atriz o potencial para viver na tela uma personagem tão poderosa. Por outro lado, Parris e Vellani são bons acréscimos , ainda que seja tudo ao redor delas tão didático – não se exige nem mesmo estar a par dos acontecimentos vistos nos filmes e séries que já participaram, pois tudo é novamente explicado por aqui – e reiterativo que mesmo qualquer resquício de espontaneidade acaba por ser sufocado. Assim como acertos prévios – Nick Fury vira babá de família, enquanto que o gato Goose só está presente para uma única piada (contada tantas vezes que chega a perder a pouca graça que continha) – que são desperdiçados sem chance de retorno. E sacadas curiosas, como o planeta musical ou a participação dos skrulls (outro espécie em perigo de extinção que não consegue a ajuda que tanto necessita) se mostram não mais do que notas de rodapé, visto que são descartadas tão logo são introduzidas. As Marvels poderia ser o ápice de uma longa jornada rumo ao fantástico e a um contexto mais diverso e inclusivo. Mas tudo o que consegue é o riso fácil, o entretenimento ligeiro e o esquecimento rápido. Merecia mais.
P.S.: há apenas uma cena pós-crédito, e talvez seja a melhor coisa de todo o filme!
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