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Sinopse

​Rubens é um professor de natação infantil. Ele foi acusado pelos pais de um aluno de beijar o filho deles, na boca, no vestiário do clube. Quando a acusação viraliza nas redes sociais e nos grupos de mensagens da escola, começa um julgamento precipitado sobre as ações e intenções de Rubens.​

Crítica

No trabalho seguinte à sua estreia em longas ficcionais, Boa Sorte (2014), a carioca Carolina Jabor traz à tona um tema pulsante nos divisivos tempos atuais, nos quais a internet se transformou numa grande plataforma de autoafirmação calcada em opiniões e conclusões imediatistas. Um tribunal onde sentenças implacáveis são proferidas com pouca, ou nenhuma, fundamentação, visando satisfazer desejos individuais, muitas vezes deturpados, de justiça. Baseado na peça O Princípio de Arquimedes, do catalão Josep Maria Miró, Aos Teus Olhos mira a discussão sobre o linchamento virtual ao centrar-se na história de Rubens (Daniel de Oliveira), professor de natação acusado de ter confortado Alex (Luiz Felipe Melo), um de seus alunos, com um beijo na boca, e que passa a ter sua integridade questionada quando a acusação é compartilhada pela mãe do garoto nas redes sociais.

Desde o início, Jabor busca manter Rubens envolvido por uma aura dúbia, apresentando-o, nos primeiros momentos, durante uma competição no clube, como uma figura carinhosa, atenciosa e querida pelas crianças. Uma postura que contrasta com aquela vista logo na sequência seguinte, quando se encontra no vestiário ao lado de outro professor, infringindo a recomendação de não fumar no local e fazendo comentários inapropriados sobre as fotos de uma das alunas. “Hoje em dia, com doze anos, elas sabem muito mais do que eu e você”, afirma ao colega. O levantamento dessas incertezas acerca da personalidade de Rubens torna o ponto de partida da trama instigante, contudo, o potencial exibido nunca chega a ser desenvolvido como poderia. Isso ocorre, pois, em pouco tempo, a cineasta se mostra mais interessada em acompanhar a propagação do escândalo do que no estudo de personagens.

Ao fazer tal opção, Jabor relega essas figuras ao papel de meros peões da polêmica, em especial aquelas do núcleo antagônico a Rubens. Pouco é revelado sobre Alex, por exemplo, como suas aflições ou a razão de seu comportamento introvertido – há um processo de separação dos pais evidente, mas que nunca é, de fato, discutido. A mãe (Stella Rabello) acaba limitada a uma caricatura do descontrole e da impulsividade, cabendo ao pai do garoto (Marco Ricca) oferecer alguma complexidade – na relação distante com o filho, que sequer lhe conta sobre o ocorrido com o professor, ou ao contestar a atitude precipitada da esposa, demonstrando certa relutância (ainda que mude de conduta rapidamente) na condenação antes mesmo de uma denúncia formal.

A figura paterna serve também para que Jabor exponha um preconceito comum enraizado na sociedade, o da associação imediata da pedofilia à homossexualidade, já que o pai de Alex, muitas vezes, parece mais preocupado com orientação sexual do jovem do que propriamente com o suposto beijo. Todavia, ainda que Ricca encarne o pai com a competência habitual, esse acaba preso a um roteiro que apenas resvala na superfície dos tópicos que visa debater. Uma falta de aprofundamento que se estende também aos coadjuvantes que orbitam o protagonista, exercendo papéis totalmente funcionais. Caso da namorada (Luisa Arraes), de apenas dezenove anos, ou do ex-aluno gay extremamente apegado ao professor, que servem apenas ao intuito de sustentar a dúvida sobre seus atos.

Entre todos, a única personagem que carrega algum dilema próprio é a da diretora do clube (Malu Galli), dividida entre seus princípios – crer na inocência de seu funcionário até que se prove o contrário – e suas obrigações para com os pais e a instituição. Com isso, quase toda a carga dramática fica sob a responsabilidade de Oliveira, que defende seu Rubens de modo aguerrido, conquistando, na mesma medida, a empatia e a desconfiança do espectador. Sua atuação se impõe sobre uma direção que se, por um lado, se mostra habilidosa na ambientação, trabalhando bem os espaços do microuniverso do clube, por outro, revela a falta de sutileza na construção alegórica – dos diversos planos através das águas da piscina que simbolizam a natureza distorcida, pouco nítida, dos fatos até o uso da pichação no carro para mostrar Rubens como um homem que agora carrega uma marca.

Sustentando a ambiguidade até as últimas consequências, Jabor encaminha Aos Teus Olhos a um desfecho inconclusivo que se torna problemático. Não pelo fato de recusar uma resposta definitiva para o caso (uma opção válida, que poderia até mesmo suscitar a reflexão ao se manter aberta a todas as possibilidades). Mas por se encerrar de modo prematuro, justamente quando o aprofundamento desejado, e até então pouco efetivo, nos conflitos pessoais e nas consequências da transposição do escândalo do mundo virtual para o real, parecia ganhar força. Sabotando o próprio potencial, o longa se contenta com uma exposição trivial, quase tão frágil quanto os vereditos virtuais que se propõe a discutir. O que pode até ser intencional, mas nem por isso torna o resultado menos frustrante.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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