Crítica
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Sinopse
Boatos anônimos circulam sobre o colégio Recanto. Bia deseja descobrir quem está brincando com os segredos de todos da escola. Se bem-sucedida, pretende pleitear junto à diretora a readmissão do irmão que foi expulso.
Crítica
Amiga do Inimigo é a continuação, em formato longa-metragem, de Em Prova, websérie criada e estrelada por Viih Tube, uma influenciadora digital célebre, seguida por milhares de pessoas. Como era de se esperar, especialmente em se tratando de uma sequência, há muita explicação e contextualização permitindo a alguém sem contato prévio com esse universo compreender as tramas, os vínculos, o passado em comum, enfim, o ambiente dos personagens. Porém, ao invés de completar as lacunas sutilmente, o roteiro propõe uma alternativa que de tão espalhafatosa pode ser entendida como um dos pontos baixos dessa produção repleta de falhas básicas. Bia (Viih Tube), a garota popular da escola, tem um irmão encrenqueiro que está num “retiro” após sua expulsão do internato. Ela se depara com questões bastante comuns à adolescência, tais como afirmação, popularidade e afins. O conflito principal acontece por conta do perfil anônimo numa rede social que está irresponsavelmente tornando públicos os segredos de todo mundo. Existe ali terreno para observar privacidade, mecanismos de classificação da dinâmica secundarista e as singularidades dos jovens.
Comparar o filme com Malhação, por exemplo, seria injusto com a novela global, pois Amiga do Inimigo é leviano diante dos temas abordados. A pressa é tanta que os primeiros 30 minutos já geram cansaço. Àqueles que não gostam de narração em off, a produção pode motivar altíssimas doses de irritabilidade, pois Bia é uma personagem principal que explica nos mínimos detalhes tudo o que está acontecendo nesse enredo pretensamente intrincado, mas que deixa óbvia a sua banalidade. Não bastasse essa pressuposição de que o público-alvo precisa ser carregado pela mão após cada reviravolta capenga, diante de desditos esmiuçados escrachadamente, há a rapidez descabida. Claro que nos pouco mais de 70 minutos acaba comportando muita história, mas seria melhor apurar o recorte ao invés de incorrer numa lógica de desabalada carreira para tentar desvendar a identidade de quem está colocando a escola em alerta. Tudo que acontece na tela carrega um artificialismo gritante. Dos cenários aos envolvimentos emocionais, fica difícil ver indícios de verossimilhança.
Em dado momento, enquanto explica seu plano, sem pausas para respiros, Bia acaba se envolvendo carnalmente com a nova colega, a capciosa Manu (Vivi). É um traço positivo que o namorico não seja reprovado ou transformado num problema, mas naturalizado. Isso, embora o diretor Plinio Scambora não permita ao vínculo comunicar-se com o mundo exterior, limitando-o à intimidade do dormitório. Aliás, quando Bia, supostamente de modo malicioso, diz que ambas mudaram os planos “porque tínhamos coisa melhor a fazer”, a tomada posterior as mostra puerilmente tirando uma selfie. Controvérsias são desgastadas até virarem problemas aparentemente passageiros, de fácil resolução ou não tão graves assim. A devassidão da intimidade alheia vira uma tolice perdoada por amigos, a protagonista cria um plano que envolve chantagear a diretora para que o irmão casca-grossa seja novamente admitido por ali e várias faturas perigosíssimas são tratadas como traquinagens. Amiga do Inimigo gradativamente deixa de ser inocente e se torna pernicioso.
Falta muita maturidade à concepção e execução do filme, sobretudo quanto à observação de um período tão conturbado. Longe da necessidade de apresentar personagens bonzinhos que barganham constantemente pela nossa adesão irrestrita e incondicional, é de se esperar que as pessoas em cena sejam minimamente balizadas por códigos de conduta social e pela compreensão em perspectiva com a coletividade. No fim das contas, Amiga do Inimigo não propõe nada para além da aventura inconsequente, na qual os fins parecem integralmente justificar os meios, em que é aceitável futricar a privacidade alheia – isso justo num enredo que mostra a perturbação do entorno quando segredos e coisas que tocam a esfera pessoal ganham indevidamente o espaço público. Não bastasse isso, corroborando o roteiro pobre, a câmera é perfeitamente contente em reiterar o dito (várias e várias vezes), assim fazendo da imagem um apêndice. Tudo arrastado pela velocidade com que a história é contada, recontada, configurada e reconfigurada, ao ponto de restar pouco de positivo.
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