Crítica


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Sinopse

O panorama ambiental da Terra está cada vez mais apocalíptico. Este documentário busca personagens comuns que estão desenvolvendo formas alternativas para criar um mundo melhor.

Crítica

As causas ecológicas já motivaram vários filmes, tanto ficcionais quanto documentais. É natural a apreensão com os rumos do mundo, a despeito do ceticismo de alguns. De um lado, ambientalistas e cientistas chamam a atenção para as catástrofes decorrentes dos vícios da atividade humana na Terra. De outro, há os que tratam tudo como puro alarmismo, colocando panos quentes. Preocupados com as múltiplas situações que permitem o aquecimento global, mas não somente ele, os diretores Cyril Dion e Mélanie Laurent decidiram transformar questionamentos em cinema. Amanhã é dividido em cinco capítulos, cada qual abordando um aspecto importante do painel que se busca construir de uma conjuntura inquietante. Agricultura, energia, economia, democracia e educação são os temas escolhidos para esse diagnóstico consistente, de percurso pavimentado com habilidade por informações que se interconectam organicamente a fim de produzir um discurso, senão definitivo, relevante para entendermos com mais clareza o comportamento de determinados agentes na esfera global.

A equipe viaja por diversos países à procura de iniciativas agrárias sustentáveis, contrárias conceitual e estruturalmente à tendência dos grandes produtores. Amanhã observa com notório carinho e admiração esses nichos de resistência, como o de uma pequena cidade inglesa na qual existe o plantio ostensivo de hortaliças e afins em qualquer espaço possível, como os canteiros urbanos, por exemplo. O roteiro se encarrega de fazer das eventuais interrogações propiciadas por um segmento os pontos valorosos de partida do próximo. Portanto, se torna absolutamente natural questionar a ordem econômica quando acompanhamos o registro dos projetos de cultivo implantados em Detroit, cidade norte-americana vitimada pela quebradeira da indústria automobilística, até dado momento, sua única expectativa de sobrevivência. Tais laços tornam o filme um organismo coerente, pulsante e totalmente comprometido com a ideia da interligação temática enquanto motriz.

Entrecortado por imagens idílicas, Amanhã possui foco definido. A coesão de um pensamento progressista, contraposto à ordem vigente, é um objetivo alcançado com êxito. Ao falar de energia, o documentário expõe a sanha ambiciosa das engrenagens simbólicas nutridas por combustíveis fósseis, fonte de energia limitada e totalmente cara, além de altamente poluente. São apresentadas alternativas renováveis, experiências bem-sucedidas, inclusive do ponto de vista da reprodutibilidade e da viabilidade financeira. Gradativamente, Cyril Dion e Mélanie Laurent estabelecem uma narrativa instigante, não contente em apresentar informações aleatoriamente, mas preocupada em deflagrar cadeias. Na seara econômica, temos uma aula simplificada, porém esclarecedora, sobre quem pode fabricar dinheiro, expondo, então, os mecanismos perversos da economia mundial, para depois vermos adoções pontuais de moedas locais que robustecem, e bastante, a saúde de comunidades inteiras.

A oposição do gigantismo pelo fortalecimento das ações menores perpassa todas as partes de Amanhã, configurando sua linha mestra. Seja na democracia ou na agricultura, a atitude mais abraçada pelo documentário como urgente é negar os modelos atuais de acumulação, de concentração de poder em poucas mãos, para criar uma realidade igualitária. Dessa maneira, a questão ecológica, motivo de ser inicial da realização, é amplamente contextualizada de acordo com seus vetores de maior influência. Todas as partes desse mosaico estimulante são aditivadas de méritos imprescindíveis ao resultado. O encadeamento de reflexões aparentemente desconexas, mas que, de acordo com o itinerário proposto, se tornam peças de um quebra-cabeça cuja imagem geral é exponencialmente mais evidente, constitui a força deste filme engajado na análise das enfermidades que acometem o planeta e, em semelhante medida, na constatação de que há medidas aplicáveis, já em uso, que podem melhorar o futuro.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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