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Sinopse

O fotógrafo Simão, casado com Catarina, uma compositora de jingles publicitários, se apaixona pela atriz judia Renée, com quem viaja a Jerusalém. Lá ele acaba registrando um atentado terrorista, o que o torna mundialmente famoso. Mas, ao mesmo tempo, surgem críticas negativas por ter fotografado o evento, ao invés de tentar evitar a tragédia. Simão entra em depressão e fica na fronteira entre realidade, sonho e delírio.

Crítica

Há três mulheres na vida de Simão Alcóbar (Alexandre Nero). Uma é a esposa, Catarina (Maria Flor). Outra é a amante, Renée (Camila Morgado). E a terceira é a paixão da infância, Alícia (Andrea Beltrão). E se cada uma parece ocupá-lo de uma maneira diferente – lembranças que ficaram para trás, perturbações de um presente desgastado ou expectativas por um futuro que provavelmente não existirá – está num ato vindo mais pelo instinto do que pela reflexão a maior causa das suas dores de cabeça. E será por esse momento em particular que o protagonista de Albatroz se verá obrigado não apenas a rever suas convicções de ontem ou aspirações de amanhã, mas também repensar quem ele próprio é no dia de hoje. Como se pode perceber, não eram poucas as ambições do diretor Daniel Augusto. E é também alta a decepção proporcionada por um conjunto que não consegue promover nem parte dos méritos reunidos.

Se Simão faz pouco caso do interesse de Alícia, que mesmo tanto tempo depois segue com ele em mente, será na figura de Renée que encontrará amparo diante da crise vivida ao lado de Catarina. Durante uma viagem a Jerusalém que, em tese, serviria para a um trabalho, mas que na prática não passa de uma lua-de-mel improvisada com a nova paixão, o fotógrafo acaba presenciando uma tentativa de ataque terrorista. O episódio se passou na frente dele, porém, ao invés de se envolver diretamente no ocorrido, ele preferiu fazer o que sabia melhor: sacar a câmera que tinha em punho e registrar o que ocorria diante de si. As imagens obtidas lhe dão fama e reconhecimento, mas também servem para levantar uma polêmica: não deveria ele ter interferido, uma vez que haviam tantas vítimas em potencial, ao invés de se manter à parte da situação, apenas como um observador privilegiado? Até que ponto é permitido ser apenas profissional quando há vidas em jogo?

Essa questão, de uma forma ou de outra, já fora abordada mais de uma vez no cinema contemporâneo. De maneira bastante similar, é possível encontrá-la no drama Repórteres de Guerra (2010), que em sua trama encontra espaço para discutir o trabalho do fotógrafo Kevin Carter, responsável por uma das cenas mais emblemáticas da fome na África: a criança desnutrida sendo acompanhada de perto por um urubu esfomeado. No entanto, se o filme escrito e dirigido por Steven Silver – por sua vez era baseado na história real narrada no livro de Greg Marinovich – procurava se debruçar sobre as consequências dessas decisões e o quanto elas afetam esses homens que buscavam apenas cumprir o que deles se esperava, o cineasta brasileiro se contenta em apenas tangenciar a questão, evitando problematizá-la moralmente através de uma reflexão mais profunda. Ao invés disso, se ocupa com distrações passageiras, que vão desde os conflitos amorosos vividos pelo protagonista até a forma escolhida para expor sua trama.

O roteiro de Bráulio Mantovani (indicado ao Oscar por Cidade de Deus, 2002), escrito em parceria com os novatos Fernando Garrido e Stephanie Degreas, se esforça para compor um cenário interessante, ainda que pouco espaço ofereça para vasculhar as motivações de cada um dos presentes. Isso se verifica pela falta de objetividade do realizador, que demonstra não saber muito bem o que fazer com tantas figuras em cena, mas também ao optar por caminhos um tanto equivocados. Nesse sentido, o que mais incomoda é a montagem desconstruída – cortesia de Fernando Stutz (Malasartes e o Duelo com a Morte, 2017) – que ao invés de servir à história, compete com a mesma, retirando a audiência a todo instante da sequência de acontecimentos. A direção de arte, ao brincar com diferentes tempos narrativos, também não se mostra eficiente em distanciá-las no espaço. O filme também falha quando decide apresentar uma trilha sonora reincidente, redundante e, por vezes, bastante óbvia. Talvez, em algum lugar há muito esquecido, houve um bom filme. Mas o certo é que este está perdido, sem chance de ser encontrado.

Alexandre Nero não é um ator dos mais versáteis, e suas carências ficam ainda mais evidentes frente a um tipo tão estereotipado. E se é difícil descobrir as verdadeiras razões de Andréia Horta, Gustavo Machado e Marcelo Serrado – todos reduzidos a meros clichês – o que mais incomoda no elenco é como atrizes talentosas como Andrea Beltrão, Maria Flor e Camila Morgado puderam ser tão maltratadas, jogadas em um contexto que em nada lhes favorece. Albatroz, aproveitando o título que nunca chega a se justificar, é uma ave um tanto bêbada, sem rumo nem razão, que termina por ser engolida pela própria ambição de ir além do que lhe era permitido alcançar. Assim, acaba por morrer no mar, longe de qualquer porto seguro que pudesse lhe conceder um mínimo de segurança ou, na melhor das hipóteses, dignidade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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