Crítica
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Sinopse
O protagonista de Agente das Sombras é Travis (Liam Neeson), um espião que trabalha para o FBI. Seu estilo de vida dificultou as relações familiares, mas está disposto a recuperar o tempo perdido ao se tornar um avô melhor. No entanto, quando menos espera é colocado no centro de uma conspiração.
Crítica
Agente das Sombras começa com uma manifestação inflamada. A jovem política Sofia Flores (Mel Jarnson) discursa intensamente sobre a administração interna norte-americana. Aos poucos, suas palavras sugerem um posicionamento político progressista, sobretudo a julgar pela defesa, tanto dos direitos igualitários entre homens e mulheres quanto do fim da discriminação nos Estados Unidos. A atuação da intérprete não é das mais convincentes, embora ela se esforce para aparentar eloquência. No entanto, o importante é definido logo a seguir. Numa cena também pouco consistente, a idealista é assassinada a sangue frio numa circunstância com cheiro de conspiração. É preciso suspender a descrença diante de uma congressista em ascensão que não transita com motorista particular e todo um aparato de segurança condizente com sua visibilidade? Sim, é preciso. Portanto, em poucos minutos já temos de exercer a musculatura da condescendência se quisermos continuar degustando essa história com algum nível de prazer. Aliás, não vai demorar muito para percebermos que o longa-metragem dirigido por Mark Williams é como aquelas comidas que já ficaram rançosas depois de tanto serem requentadas. E para confirmar a sensação de “já vi esse filme antes (várias vezes)”, surge Liam Neeson como um agente secretíssimo capaz das tarefas mais complicadas. Um personagem frequente do ator.
Se ao ler esse primeiro parágrafo, tendo em perspectiva os filmes mais recentes de Liam Neeson, você se questionou: “será que alguém da família dele é sequestrado em algum momento?”. A resposta é: de certa maneira, sim. Portanto, mais um lugar-comum à vista. Travis (Neeson) é um agente incumbido de garantir a integridade física e emocional dos colegas do FBI. Próximo da velhice, ele quer reparar um pouco as falhas que teve no passado como marido e pai, para isso ensaiando ser mais presente na vida da neta. Logo, será envolvido no caso da congressista assassinada, pois um dos membros do FBI é assolado por uma severa crise de consciência. Travis é encarregado de evitar que verdades inconvenientes vazem à imprensa, assim protegendo mais a instituição do que necessariamente os homens que cumprem as suas ordens. Ainda que seja lotado de lugares-comuns, o cenário continua promissor, principalmente por conta do conflito moral que se anuncia. No entanto, é novamente preciso fazer vista grossa e ouvido de mercador quando o protagonista de Agente das Sombras simplesmente é pego de surpresa pela podridão do FBI. Oras, se ele é alguém que confessa ter coagido, extorquido, cruzado quase todas as fronteiras aceitáveis no cumprimento de sua função, soa, no mínimo, uma ingenuidade do roteiro a sua indignação/surpresa ao saber de toda a verdade, da maracutaia que o comanda.
Agente das Sombras ensaia uma crítica ao Estado norte-americano caracterizado historicamente por arroubos imperialistas, mas restringe o olhar ferino ao chefão do FBI. Então, o sujeito personaliza o mal, como se fosse uma exceção, não uma engrenagem importante dentro da atuação da instituição. Ao desenhar Travis como alguém que não sabia de toda extensão dos atos que ajudava a executar, o filme desperdiça o potencial enorme do conflito de consciência. Em nenhum momento o agente se mostra arrependido ou mesmo em dúvida (talvez isso até aconteça, mas dura poucos segundos). Uma vez que o roteiro a cargo de Nick May e Mark Williams o coloca como um joguete de forças superiores, há o deslocamento desse homem de comportamento bem questionável aos lugares das vítimas e dos anti-heróis. A partir disso, o filme se apoia basicamente num trajeto de vingança, com Travis deixando de ser um dos bandidos e se tornando a única esperança dos mocinhos. Essa mudança de estatuto do personagem é feita de maneira muito automática e burocrática, sem que qualquer reflexão sobre suas atitudes e impulsos venha à tona. Sorte do cineasta que ele tem na liderança do elenco alguém como Liam Neeson, um intérprete bom ao ponto de dignificar mesmo um personagem tão genérico quanto esse agente do FBI semelhante a vários outros homens letais que ele tem interpretado ultimamente.
É tudo muito esquemático em Agente das Sombras, da mudança de Travis ao envolvimento de uma jornalista no caso. A repórter Mira (Emmy Raver-Lampman) vira uma espécie de voz da consciência do protagonista, alguém que tem de lutar contra o sistema e a incredulidade do seu editor. Aliás, outra lógica surrada: a jornalista idealista que se depara com um superior inferior a ela nos quesitos “tesão e faro”. Mark Williams minimiza a força dos subtextos em prol da ação desenfreada e dos desdobramentos sem personalidade da trama. Travis tem uma dúvida de honra com seu algoz, mas há somente o superficial disso nas entrelinhas do vínculo que passa por um abalo sísmico quando a verdade vem à tona. O cineasta também desperdiça a condição do protagonista como obsessivo-compulsivo beirando a paranoia. Esse estado patológico chega a ser problematizado como um empecilho familiar, mas acaba reduzido a uma peculiaridade que não possui a importância esperada. Outro exemplo da displicência diretiva quanto aos detalhes se dá em dois momentos nos quais Travis conversa com a sua filha Amanda (Claire van der Boom). No primeiro, a jovem demonstra muita indignação diante da instalação de câmeras de segurança em sua casa: “nunca mais faça nada na minha casa sem pedir autorização antes”, ela diz irritada. Bem mais tarde, Amanda apresenta uma inexplicável felicidade ao ser colocada num programa de proteção de testemunhas, ou seja, ao ter sua vida ainda mais modificada pelas ações arbitrárias do pai. E esse é apenas um dos indícios do quão forçado é o clímax conciliador e pouco questionador.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 2 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 1.3 |
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