Crítica
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Sinopse
O relacionamento amoroso vivido por um casal é contado através de diferentes décadas e continentes, desde as ruas de Nova York até a Espanha, revelando como diferentes pessoas acabam se conectando a eles por meio de um evento marcante.
Crítica
Personagens dilacerados irremediavelmente por uma perda amorosa; gente fazendo sacrifícios consideráveis pelo bem da prole; apaixonados percorrendo um caminho retilíneo da felicidade esfuziante ao abismo da solidão; barbas por fazer denotando desleixo e tristeza; encontros engendrados para deflagrar as ironias de um destino afeito a pregar peças. A Vida em Si é um melodrama rasgado, marcado pelos elementos mencionados, mas não sem antes brincar de metalinguagem. O começo é confuso, com Samuel L. Jackson interpretando a si mesmo enquanto narrador de uma história que logo se prova fictícia, retirada da criatividade de Will (Oscar Isaac), sôfrego em processo de aceitação do abandono da esposa, Abby (Olivia Wilde). O cineasta Dan Fogelman (criador da série This is Us, 2016-) utiliza a presença da terapeuta vivida por Annette Bening como muleta. A ela o paciente conta como foram os anos dourados do casamento e a posterior tragédia. A menção a uma tese sobre narradores não confiáveis é uma nada sutil pista de que há caroços no angu, ou seja, o relato deve ser relativizado, pois construído por alguém.
Para supostamente substanciar os flashbacks, o realizador recorre à colocação literal da ouvinte e do falador nas cenas contadas, recurso, no mínimo, de gosto duvidoso. Como dá para perceber, o elenco de A Vida em Si é recheado de nomes celebrados, intérpretes reconhecidamente competentes. Exatamente eles dão conta de manter fiapos de interesse na trama rocambolesca que ganha contornos piegas na medida em que avança, apresentando novos núcleos e cronologias interligadas, numa tessitura surrada. O plot twist que sacode a atualidade de Will não é necessariamente competente, mas serve para apresentar as pessoas que pegarão o bastão a fim de levar o enredo meloso adiante. O filme é dividido em cinco capítulos, cada um focado numa história particular. A justaposição delas intenta gerar uma imagem ampla, cuja função é demonstrar como ocasiões pretensamente díspares podem estar ligadas pelos desígnios insondáveis do universo. A mão pesada da direção se encarrega de caprichar no açúcar.
Em A Vida em Si há sempre uma narradora situando burocraticamente as circunstâncias, fazendo comentários a partir de uma visão privilegiada. Apenas próximo ao fim sabemos quem ela é, informação no limite entre a irrelevância e banalidade. No segmento estrelado por Antonio Banderas há a exploração de virtudes como a moral, com essa observadora onisciente alertando acerca da armadilha de classificar os personagens de acordo com as aparências. Esse expediente, de alguém pondo em xeque o andamento do conjunto, poderia funcionar efetivamente caso a história não fosse inapelavelmente tragada pelas obviedades e por uma delineação bastante rasa dos vínculos. As pessoas em cena possuem camadas superficiais, exploradas a contento por atores e atrizes que tratam de dignifica-las até onde a fragilidade do texto permite. Todavia, invariavelmente tudo acaba num vale de lágrimas, decorrente de infortúnios, abdicações, dissensos, em suma, de inúmeras ferramentas à indução do choro.
A Vida em Si tenta manipular o espectador para que o mesmo tenha aderência às situações e a essa gente interligada tanto pela tragédia quanto pelo amor. Algumas transições de tempo são bem articuladas, como o crescimento de um personagem durante a corrida pelas oliveiras, mas é tão flagrante a necessidade de forçar o envolvimento emocional que se recorre inabilmente a uma receita que, além do outrora mencionado, contém amores morrendo acidentalmente na frente de seus cônjuges, doenças fatais corroendo paulatinamente uma figura essencial – com o bônus de enamorados à beira da cama acompanhando dolorosamente a progressão da enfermidade –, e toda sorte de tintas macambúzias. A espirituosidade de diálogos deliciosos como os do almoço de Will e Abby com os pais dele vai dando lugar a falas ordinárias e a uma dinâmica afetuosa trivial, típica de melodramas baratos. Nem o apreço por Bob Dylan consegue ser uma argamassa mais que subaproveitada no filme.
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