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Sinopse

A morte da Princesa Diana - a "Princesa do Povo" - atinge a nobreza britânica como um raio. O Primeiro-Ministro pede à Rainha que ela se manifeste, assim atendendo aos clamores populares.

Crítica

Até que ponto uma tradição realmente tem valor, simplesmente por ser tradicional? Como reconhecer o momento de mudar e seguir em frente, ao invés de se ater ao passado e a antigos costumes? Como reagir diante fatos até então inexplicáveis e/ou inimagináveis? A sabedoria de se adaptar a uma condição a princípio desfavorável é o segredo da sobrevivência de toda e qualquer espécie ameaçada de extinção, uma lição aprendida às duras penas pela Rainha Elizabeth II no final do século passado num difícil período retratado com imensa maestria num dos filmes mais instigantes de 2006.

Dirigido por Stephen Frears (indicado ao Oscar por este trabalho e também por Os Imorais, de 1990), A Rainha se passa durante uma única semana, da trágica morte da princesa Diana num acidente de trânsito até o seu enterro. O foco da ação está no comportamento da Família Real Inglesa, em como ela reagiu ao acontecimento, e como o povo inglês exigiu uma maior comoção da realeza. E há também a atuação decisiva do recém eleito primeiro ministro Tony Blair (Michael Sheen, de Frost/Nixon, 2008). A participação dele foi decisiva para "salvar" a monarquia nestes fatídicos sete dias.

A Rainha nem parece ser dirigido por Frears, um autor mais acostumado com o proletariado do que com a realeza (como mostram alguns dos seus antigos trabalhos, como A Van, 1996, e Liam, 2000). O mais próximo em que o realizador já esteve deste ambiente foi em Ligações Perigosas (1988), mas mesmo assim sem o registro documental deste novo trabalho, uma realização muito bem feita, de classe e dona de resultados práticos, com um registro frio típico do seu objeto de estudo. Foi indicado ao Oscar em seis categorias: Filme, Diretor, Atriz, Roteiro Original, Figurino e Trilha Sonora. Ganhou como Atriz, para Helen Mirren, num dos desempenhos mais intensos e impressionantes desta temporada. Ela ficou além da mera atuação, e a impressão que temos é como se a intérprete simplesmente incorporasse a personagem real.

A Rainha tem muitas e evidentes qualidades, mas não seria um trabalho tão interessante sem a presença forte e dominadora de Helen Mirren. A atriz, que já havia sido indicada ao prêmio máximo do cinema mundial como coadjuvante por As Loucuras do Rei George (1994) e por Assassinato em Gosford Park (2001), dá um verdadeiro show, numa interpretação carregada de pequenos detalhes. O filme favorece a história, e não somente a atriz, o que torna ainda mais impressionante o seu trabalho. Num dos momentos mais comoventes, quando a rainha finalmente se entrega à emoção, chorando a perda de tudo o que sempre foi e temerosa do que está por vir, a câmera está em suas costas, e dela só vemos uma lágrima furtiva, após ter terminado o choro. Uma elegância irrepreensível. Mirren ganhou também o Festival de Veneza, o BAFTA e o Globo de Ouro com este trabalho. Frears e Mirren, juntos, realizaram um filme completo, que evidencia com sucesso a competência superlativa das mãos por trás da sua execução.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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