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Sinopse

Depois de ficarem arrasados por conta de um trágico aborto, Kate e John Coleman resolvem adotar uma criança, mesmo já tendo dois filhos. Eles acolhem a pequena Esther, mas logo percebem que ela guarda segredos.

Crítica

Afinal, qual o motivo de se assistir a A Órfã? O cartaz é feio. Os protagonistas são apáticos. Os personagens são irritantes. O mistério é facilmente desvendado. E a conclusão é tão absurda a ponto de ser constrangedora. Com tantos elementos errados, é de se surpreender como um projeto assim chegou a ser concluído e, pior ainda, conquistou espaço nas telas de cinema. Os fãs mais ardorosos do gênero, provavelmente, irão se arrepiar em um ou dois momentos, mas e todos os outros, aqueles desprovidos de um sadismo natural e que buscam tramas inteligentes, boas atuações, um roteiro envolvente e uma direção segura e competente? A estes, resta apenas o desespero. E não pelo motivo apropriado.

Com direção do espanhol Jaume Collet-Serra, o mesmo do horroroso A Casa de Cera (2005) (aquela bobagem que teve como maior mérito contar com Paris Hilton no elenco), A Órfã fala de um casal que decide superar um aborto involuntário adotando uma criança. A questão, no entanto, é que eles já possuíam dois filhos pequenos – ainda mais novos do que a recém chegada! E por que trazer para a família uma garota já crescida? Afinal, dizer que ‘os olhos dela me conquistaram’ não é uma razão das mais convincentes. Porém, quem está preocupado com verossimilhança aqui? E dando sequência à onda de equívocos do enredo temos uma casa tomada pelo medo. Sim, pois a menina está decidida a tomar o lugar da nova ‘mamãe’, nem que para isso ela tenha que eliminar qualquer um que se coloque no seu caminho – e isso inclui os pequenos ‘irmãozinhos’. Hum, que criança madura, não?

Vera Farmiga (O Menino de Pijama Listrado, 2008) e Peter Sarsgaard (A Chave Mestra, 2005), como o casal que se vê envolvido nessa situação inesperada, até tentam aprofundar seus personagens, mas sem muita sorte. Ela compõe uma mãe atormentada pelo alcoolismo, enquanto ele é o marido que sofre por abandono e carência. Terreno fértil para as atrocidades cometidas pela órfã, uma imigrante do leste europeu que teria sobrevivido a um incêndio em seu antigo orfanato, mas que por trás de uma aparência angelical esconde terríveis suspeitas e um segredo não muito difícil de ser adivinhado. E, quando este suspense chega finalmente ao fim com uma revelação não muito surpreendente, tudo o que nos perguntamos é como foi possível estender por tanto tempo esse fiapo de história (são mais de duas horas de projeção!).

Por mais que tenha dividido a opinião do público e provocado desprezo em grande parte da crítica, o que mais impressiona é encontrar aqueles que defendem A Órfã como um digno representante do atual terror na sétima arte. Ok, não há sangue jorrando na tela, serial killers imortais e outros impropérios tão comuns, mas por outro lado tudo se baseia em algo tão sem credibilidade que chega a ser risível sua tentativa de ser levado à sério. No mais, temos um elenco infantil que consegue despertar alguma atenção – com destaque para a novata Isabelle Fuhrman, como a personagem-título, e o assustado Jimmy Bennett (visto no recente Star Trek (2009) como o jovem Capitão Kirk), que consegue ser o único a perceber desde o início o drama que começa a se desenhar ao seu redor. No mais, temos um tremendo desperdício que inexplicavelmente chegou a arrecadar mais de US$ 50 milhões nas bilheterias de todo o mundo, comprovando que o fôlego para este tipo de bobagem está longe de acabar. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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