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Sinopse

Em 1978, ainda sob a ditadura, o Brasil sucumbe à discoteca graças a novela Dancing Days. Amanda, viciada no drama televisivo, e Dora, sua melhor amiga, fogem de São Paulo para o Rio de Janeiro. O policial Brandão está no encalço das duas, e neste caminho seus destinos vão cruzar com o de outros desajustados: João Paulo, um diplomata que se sente um estrangeiro no seu próprio país; o revolucionário Vicente; e o adolescente Caio, que foi criado pelos avôs e luta para ser aceito como gay.

Crítica

Eleito melhor roteiro no Festival do Rio 2011, A Novela das 8 é “vendido” como homenagem à Dancin Days (1978), sucesso de Gilberto Braga que trouxe a discoteca para o Brasil então coagido pela ditadura Ernesto Geisel. Tal movimento canhestro visa apenas atrair os fãs da trama pretérita ao cinema do presente, já que, propriamente como recurso narrativo, a aproximação resume-se a uma citação aqui, outra bem acolá. O filme foca-se nos árduos anos de chumbo e na coletividade que, em busca de escapismo, arrendava sua atenção ao ritmo e aos brilhos do horário nobre. Mas que não se espere qualquer apontamento mais ferino acerca da miopia provocada pelo folhetim global.

Dora é ex-militante e trabalha como empregada doméstica da prostituta Amanda. Num revés próprio à estrutura novelesca e seus artificialismos, ela identifica um dos clientes da patroa como seu algoz de idos tempos e, logo após matá-lo, foge com a chefa feita inadvertidamente cúmplice. As coisas vão evoluindo (ou seria involuindo?), e entram em cena diversos personagens possivelmente retirados de algum arcabouço de lugares-comuns: o torturador caricaturalmente vilanesco, o filho que nada sabe dos pais (representante da inocência), os capangas arrependidos, os guerrilheiros “mocinhos”, etc. Pílulas de pseudo-incorreção surgem na forma de palavrões, sangue, beijo gay, entre outras manifestações banalizadas e superficiais, pois destoantes do itinerário narrativo percorrido pela fábula.

De dramaturgia esvaziada, A Novela das 8 ainda padece de decupagem e encenação pouco inspiradas. E para que não se fale em desastre total, há certa simpatia na representação exagerada de Vanessa Giácomo, esta, porém, tampouco aproveitada a contento pelo diretor Odilon Rocha, num rocambole repleto de figuras rasas e desenvolvimentos condizentes com tal profundidade. Quem for ao cinema em busca de elaboradas alusões a Dancin Days terá ingrata surpresa, bem como os que confiam resultar da justaposição “novela/ditadura” um substrato crítico mais espesso. Sem dúvida que há boas intenções em A Novela das 8, principalmente na reabertura de velhas feridas, mas como bem se sabe, a morada do capeta está repleta destes intentos que não dão em nada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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