Crítica

Desde que o primeiro Shrek foi lançado, em 2001, o eixo do mundo das animações deixou de ser o quase monopólio da Disney (e Pixar) para aumentar, ano após ano, o número de lançamentos do gênero nos cinemas. É claro que, se antes, a qualidade das produções era de altíssimo nível (afinal, quase não havia competição e os filmes tinham mais tempo para serem bem produzidos), com o aumento da demanda e a inserção de diversos estúdios no meio, os longa-metragens destinados ao público infantil (porém de olho nos adultos também) alternam entre os que não dá pra perder, os totalmente descartáveis e os simpáticos. A Fuga do Planeta Terra, que chega agora aos cinemas brasileiros, é um exemplo desta última leva.

A história busca subterfúgios num gênero que, de maneira geral, sempre faz sucesso: os extraterrestres visitando o nosso planeta. Só que, desta vez, eles não querem invadir a Terra, e sim responder a um pedido de resgate. Quem viaja anos-luz de distância na missão é Scorch Supernova, o ingênuo e corajoso herói do planeta Baab, só que ele acaba capturado na famosa Área 51 dos Estados Unidos. Quem vai em seu encalço é seu irmão, Gary, um simples (porém gênio) controlador de vôo que vive em constante conflito com o irmão e também com seu filho, que vê no tio um exemplo a ser seguido.

Como toda animação, o foco é no relacionamento familiar, neste caso, o homem que se sente obliterado pelo irmão mais novo, forte e popular (apesar de estúpido) e pela falta de conexão com o filho. A piada da demissão, repetida à exaustão, é um dos símbolos deste conflito. Até seu nome parece exemplificar isso: Gary (comum entre os norte-americanos), enquanto os habitantes de seu planeta tem nomes mais “exóticos”, assim digamos, como Kira (sua esposa), Kip (filho), além do próprio irmão.

A Fuga do Planeta Terra tem um design gráfico impressionante, multicolorido e que aposta, principalmente, na dualidade do vermelho com o azul (o que pode até acabar representando de maneira simbólica o conflito dos irmãos protagonistas). Os coadjuvantes apresentados, apesar do clichê esperado, são cativantes, ainda que merecessem um tempo maior em tela. O trio da “prisão” dos aliens (com destaque para Thurman, uma espécie de lesma de três olhos) diverte na medida certa, sem ofuscar os protagonistas.

Esta é a primeira animação para o cinema de Cal Brunker, que já havia dirigido para a televisão outro exemplar do gênero, Ninjamaica (2009), além de ter trabalhado no storyboard de filmes como Meu Malvado Favorito (2010) e A Era do Gelo 4 (2012). O lançamento da empresa de animação canadense Rainmaker Entertainment, responsável pelos filmes da Barbie para a TV, teve vários problemas em sua produção, inclusive o roteiro chegou a ser reescrito 17 vezes, o que pode ajudar a entender porque a trama às vezes fica meio confusa e sem norte.

Apesar destes pequenos problemas, os pequenos devem sair contentes da sessão, recheada de heroísmo, simbolismos e tecnologias avançadas. Os pais podem ficar com um pouco de sonolência, mas no fim devem entender que, como a maioria das produções do gênero, a principal arma de A Fuga do Planeta Terra é divertir o público por 90 minutos. E o tiro acerta o alvo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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