Crítica


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Sinopse

Shrek é um ogro rabugento e nada sociável que se vê com um problema enorme: todas as criaturas de contos de fadas foram despejadas no pântano onde vive. Determinado a tirá-las dali e voltar a viver em paz, ele faz um trato com o príncipe do reino, que por sua vez precisa de alguém bruto e forte para resgatar a princesa Fiona, com quem o monarca pretende se casar para virar rei. Porém, a moça está guardada em uma torre por um dragão feroz. Se conseguir trazer a princesa, Shrek terá suas terras de volta. Assim, ele logo parte em sua missão, mas não sem a companhia de um inconveniente burro falante.

Crítica

Poderia ter dado tudo errado. Uma animação que debocha do primeiro ao último minuto de todos os estereótipos propagados pela Disney desde o início de seus longas-metragens nos anos 1930, estrelado por um personagem feio e irritado e com um roteiro que até tem escatologia no meio. Pois o primeiro Shrek não foi apenas um grande sucesso de público e crítica como também a primeira produção a ganhar o Oscar de Melhor Animação, categoria criada no início dos anos 2000 para suprir a necessidade de elogiar o gênero, tão relegado a segundo plano em premiações. Acima de tudo, é uma das obras mais divertidas dos últimos anos e que merece todos os louros possíveis.

Assim conhecemos a história do ogro do título, um ser temido por todos, não apenas pela feiura, mas também por ser conhecido como do mal e comedor de criancinhas (quase um comunista, na melhor das alusões). Pois ele é o único que tem coragem o suficiente para enfrentar um dragão e resgatar uma princesa adormecida. É claro que nem tudo é tão ao pé da letra assim. Primeiro porque os motivos iniciais de Shrek não são nada nobres: ele quer se livrar dos personagens de contos de fada que foram exilados em sua floresta por conta de uma determinação do maléfico Lorde Farquaad. Ele quer apenas o sossego do exílio de volta. Mas quando recebe a ajuda do Burro (literalmente e também no sentido figurado) e resgata a nem tão indefesa Fiona da também não tão maligna “dragoa”. Assim ele descobre novos amigos e, claro, o amor. Tudo fora dos padrões românticos impostos pelo estúdio de animação mais famoso do mundo.

Esta é a chave do sucesso de Shrek e de suas sequências: o sarcasmo e a ironia a todo instante e que, ao mesmo tempo, trazem seus personagens, por mais estranhos ou fora do comum que sejam, lado a lado do público. Eles se tornam humanizados por, em suas personalidades, serem gente como a gente. Tem sonhos, desafios e tudo que se possa imaginar que possa remeter à Disney, mas também são dúbios em suas intenções, como qualquer um do lado de cá da tela. A história fica melhor ainda pelas gags divertidíssimas e pelo elenco de dubladores afiados que conta com Mike Myers, Cameron Diaz e, é claro, Eddie Murphy. Sua composição do Burro é uma das mais engraçadas que já passaram pela história das animações, chegando no mesmo nível do Gênio da Lampada de Robin Williams em Aladdin (1992) ou da tresloucada e desmemoriada Dory de Ellen DeGeneres em Procurando Nemo (2003).

Ajuda também a trilha moderna que conta com Smash Mouth com a música tema, entre tantos outras bandas famosas do início daquela década. Acima de tudo, um roteiro que pode até soar previsível muitas vezes no aspecto geral, mas não deixa de lado uma bela conciliação entre humor e drama quando é necessário. E o final que mostra a beleza de diferentes aspectos além do físico é muito mais relevante que qualquer rostinho bonito. Clichê? Com certeza. Mas não esqueçamos que se trata em que o público-alvo, a princípio, são os pequenos. E eles se divertem, mas talvez não tanto quanto os adultos que vão entender os diálogos repletos de duplo sentido e as referências que qualquer trintão pesca de sua infância. Eis o legítimo significado de “fábula moderna”.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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