A Excêntrica Família de Gaspard
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Antony Cordier
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Gaspard va au mariage
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2017
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França / Bélgica
Crítica
Leitores
Sinopse
Ao receber um convite inesperado para o casamento do pai, Gaspard decide viajar até o zoológico administrado por sua família, depois de anos afastado. Ele pede para Laura, uma jovem exuberante, acompanhá-lo no evento, como se fosse sua namorada. Mas o que promete ser uma reunião familiar conturbada se transforma, na realidade, numa oportunidade única de reviver os momentos incríveis de sua infância, ao lado dos animais que o viram crescer.
Crítica
Gaspard vai ao casamento. E no caminho, conhece uma bela garota, a quem convida para acompanhá-lo. Ao chegarem na casa dos pais dele, se deparam com o irmão mais velho, o correto e confiável Virgil, que está apaixonado por uma tatuadora, e a irmã caçula, que pensa que é uma ursa – bom, ao menos na maior parte do tempo. O pai – e também noivo – foi se despedir de uma antiga namorada e acabou na cama dela, e a noiva, ao saber disso, decide acabar com a festa – ainda que não necessariamente com o relacionamento. Ah, e alguém mencionou que todos vivem cercados por animais selvagens? Perto disso, o fato do protagonista ter convencido sua nova companheira mediante a um acordo financeiro chega a ser quase um detalhe. Como se pode ver, em A Excêntrica Família de Gaspard, o título é levado ao pé da letra. E é com imensa alegria que percebemos que isto é um bônus, e não um demérito da produção.
Ao invés do que foi visto em Compramos um Zoológico (2011), longa burocrático de Cameron Crowe, em A Excêntrica Família de Gaspard o problema é o oposto: chegou a hora de se desfazer da propriedade. E essa é justamente a função de Gaspard, uma vez de volta ao lar: reunir os pais e irmãos nesse momento tão delicado. Porém, mais do que reencontrar os parentes, ele terá também que lidar com aquele de relação ainda mais complicada: ele próprio. Não por acaso, seu receio de chegar sozinho se manifesta na presença de uma estranha, que precisa fingir ser sua namorada diante dos outros. Não quer estar desprevenido, alvo fácil de perguntas, questionamentos e indagações. Tão cheio de talentos, o que fez da vida desde o dia em que colocou o pé na estrada? O que cada um faz assim que se vê não mais no ninho familiar?
Nem todas as decisões são à prova de críticas. A infância é período rico de descobertas, maravilhas e deslumbramentos. Ainda mais para quem vive cercado por leões, zebras e girafas. Abandonar essa segurança, por outro lado, não seria tão natural para o crescimento do indivíduo, assim como um animal matar o outro quando com fome? A realidade pode ser bruta, até mesmo feia, mas não menos verdadeira. E é justamente com isso que Gaspard precisa lidar. Talvez com a ajuda destes mesmo que agora estão novamente ao seu redor, até que possa, por si mesmo, descobrir o melhor caminho para isso. Está, enfim, entre os seus, com quem sempre pode contar. Mas se a vontade de partir foi dele, como fazer para voltar e, ainda assim, garantir seu lugar de sempre? É justamente o que terá que descobrir, entre números de dança coreografados na sala de estar, banhos terapêuticos entre peixes de limpeza e filhotes de tigre que correm soltos pelo jardim.
A incrível fotografia de Nicolas Gaurin (Os Belos Dias, 2013) é fundamental para criar um ar quase onírico no zoológico da família de Gaspard. Mas ela pouco adiantaria se não fosse a condução segura do diretor e roteirista Antony Cordier (Para Poucos, 2010), que, sem pressa e nem atropelos, vai tirando o melhor de cada um do seu elenco para fazer brotar deste conjunto uma história irremediavelmente apaixonante. Felix Moati, como o protagonista, é uma presença discreta, quase apagada, que ganha vida ao lado de Laetitia Dosch (Jovem Mulher, 2017). Esta tem uma função especial, pois, ao assumir o olhar do espectador, vai se maravilhando com aquele cenário tanto quanto nós, do lado de cá da tela. O protagonista, ao mesmo tempo, vai assumindo outras formas quando junto ao irmão (Guillaume Gouix, de Attila Marcel, 2013), lutando constantemente para guardar um mundo dentro de si, ou com a irmã (Christa Théret, provavelmente a melhor em cena). Max (Johan Heldenbergh, de Alabama Monroe, 2012) e Peggy (Marina Foïs, de A Trama, 2017) completam o lar oferecendo tanto uma guarda àquele ambiente alheio à vida lá fora, como um pé no chão necessário para os que insistem em se manter nas nuvens. O conjunto, como se percebe, funciona em perfeita harmonia.
Mas A Excêntrica Família de Gaspard é mais do que situações inusitadas, rostos simpáticos e gestos bonitos. É também a possibilidade de incesto, cães raivosos e o fim próximo. Vai-se ao céu para, enfim, poder descer ao nível de cada um de nós. Somente assim Gaspard encontrará as forças necessárias para seguir em frente – sozinho ou, quem sabe, em melhor companhia. E não só ele, é claro. Cada um ali possui um papel a desempenhar, uma missão a cumprir e um caminho a trilhar. Mudar nem sempre é fácil – pelo contrário, na maioria das vezes vem acompanhado também de dores e desafios. Mas, por outro lado, há também as recompensas e os benefícios por ter tomado a atitude certa. Justamente o que cada um aqui precisa aprender – e acreditar. Tanto na ficção, como no lado de cá da tela.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 9 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Nayara Reynaud | 6 |
MÉDIA | 6.7 |
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