Crítica
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Sinopse
Eles vivem sob olhares intensos e acusadores daqueles que, indesejavelmente, fazem parte do seu dia-a-dia.
Crítica
A Cor Branca se passa em Minas Gerais, no entorno de um campo de mineração. Todavia, o longa-metragem escrito e dirigido por Afonso Nunes sequer passa perto de aludir à situação periclitante cujos estandartes recentes são os desastres ambientais de Mariana e Brumadinho. Aliás, a nocividade dessa atividade extrativista aparece apenas na sequência absolutamente banal da mulher responsável pelo censo tentando colher informações acerca da quantidade de resíduos despejados na água e no ar. Regina Mahia interpreta a funcionária dessa empresa, residente numa casa com mais três pessoas, sendo uma delas presa à cadeira de rodas e outras duas de circulação restrita pelas tornozeleiras que indicam o cumprimento de penas em intermitente monitoramento judicial. O cineasta não expõe o grau de parentesco dessa gente que pouco se comunica. O acúmulo de elementos infrutíferos e articulados com frouxidão torna essa sessão cansativa.
O realizador aposta em planos longuíssimos, a maioria deles destituída de vivacidade e pulsação. A narrativa transcorre num banho-maria beirando o sufocante e a encenação proposta não dá conta de delinear a mecanicidade de relações e rotinas. Na tentativa de oxigenar o conjunto, A Cor Branca coloca os personagens ficcionais em circunstâncias reais, vide o não encenado fluxo de gente na rua diante do presídio, na movimentada estação rodoviária e em vários outros cenários. Todavia, as pessoas que não fazem parte da produção têm a feição quadriculada, expediente que visa esconder identidades, provavelmente por conta de uma contingência de produção, especificamente o não colhimento das assinaturas concernentes à cessão dos direitos de imagem. Essa escolha diretiva cria um ruído considerável em tomadas já praticamente privadas de potência dramática, assinalando um desajeito que também pode ser vislumbrado nas interpretações duras.
A Cor Branca enfileira apontamentos anódinos, como a explosão precedida de precauções, inclusive a sirene que antecipa a detonação. Nessa cena, a atriz chega a avisar ao diretor que tudo está preparado, citando-o nominalmente. Outras falhas enfraquecem ainda mais a árdua identificação com esse decurso bem truncado. O áudio residual de um plano, que permanece como falha durante alguns segundos após a transição ao fragmento subsequente, é sinal disso. Afonso Nunes tenta inserir um dado político nesse molho destemperado com o discurso da então presidenta Dilma Rousseff diante de seu impeachment. Concomitantemente, no segundo plano, acontece uma discussão acerca do esquema de desvio de materiais da grande corporação. O efeito é uma cacofonia generalizada, por meio da qual a fala oriunda da televisão e a discordância veemente entre os parceiros de contravenção se anulam praticamente de todo. É mais um de tantos desperdícios.
A fotografia de A Cor Branca é um dos únicos componentes de qualidade considerável, pela beleza da composição. Todavia, tal plasticidade é uma casca oca, porque não abriga um enredo instigante, quando muito proporcionando respiros na medida em que as debilidades se impõem do modo inapelável. A manifestação dos grevistas atrelados à Central Única dos Trabalhadores, com meia dúzia de gatos pingados diante da firma, é um novo sintoma da fragilidade da produção, algo observável em muitos segmentos. Não há empenho para suscitar o interesse do espectador, sobretudo no sentido de impeli-lo a completar as diversas lacunas deixadas abertas deliberadamente pelo roteiro. O dado humano, passando pela leviana apresentação de imigrantes ao largo do campo de mineração, chegando à concepção dos personagens principais, é negligenciado por Afonso, condutor atento à suntuosidade de determinadas imagens, mas descuidado de quase todo o restante.
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