Crítica

Filmes de horror com toques de suspense tem público certo no mundo inteiro e o Brasil já se tornou destino certo de produções do gênero. Um prova disso (ou sintoma) é a chegada de A Casa dos Mortos por aqui, antes mesmo do que na "casa" dos realizadores. O que chega a ser assustador, poderiam dizer alguns vivos, quer dizer, pessimistas. Estariam eles desconfiados do potencial de sua obra dentro do próprio território ou é apenas uma questão de agenda, querendo conciliar com um período mais propício? Mistério.

Na história, novas mortes acontecem em uma mansão do século XIX, palco de um assassinato em série ligado a algum tipo de ritual, no passado. Com a chegada das autoridades, um policial (Frank Grillo) e sua namorada psicóloga (Maria Bello) iniciam uma investigação, mas as descobertas no decorrer do interrogatório com um dos sobreviventes, ainda no local, vão se mostrando cada vez mais sinistras. Coeso, mas sem destaques, o elenco conta com os veteranos citados. Ela foi premiada por filmes como Marcas da Violência (2005) e ele, experiente na TV e no cinema, vem vivendo um momento de quase protagonismo, após os 50 anos de idade, como mostrou o recente Uma Noite de Crime: Anarquia (2014). Além da dupla, parte do público poderá reconhecer a jovem Cody Horn, de filmes como Magic Mike e Marcados para Morrer, ambos de 2012.

Misturando imagens coloridas de câmeras profissionais e as sem cor de câmeras amadoras (estilo found footage) para criar aquele "climão verdade", essa coprodução Estados Unidos/Reino Unido tem orçamento de US$ 3 milhões, baixinho para os padrões internacionais, e não causará espanto se tiver alto desempenho nas bilheterias. Criada pelo cineasta James Wan, pai da famosa franquia Jogos Mortais, além de diretor e roteirista de outros títulos similares, a história de Demonic (título original) está longe de ser a descoberta da roda, mas tem condições de descer redonda para muita gente, principalmente entre os mais jovens. Ela é tensa, tem uns sustos legais (ora previsíveis, ora não) e até algumas boas sacadas, como a curiosa dica de que um HD de computador danificado pode ter parte dos arquivos salvos quando colocado no congelador ou ainda uma sequência sonora boa, com direito a "sustão", envolvendo um microfone de ultra sensibilidade.

No entanto, o que enfraquece este segundo longa de Will Canon como diretor é o roteiro, também escrito por ele com auxílio de mais quatro mãos amigas e inexperientes. Fazendo uso de recursos conhecidos para capturar sua atenção, como vários flashbacks ou as já citadas (e cada vez mais repetitivas) cenas de câmeras de vídeo, a trama funciona e se mostra envolvente durante um bom tempo. Mas ali perto da virada final, descamba para algumas bobeiras que poderiam ter sido evitadas, entraram sabe-se lá o porquê, e tiraram parte do "charme" do longa. Isso, claro, sem contar o famigerado final aberto, que já foi legal um dia, mas com a falta de criatividade vem soando cada vez mais forçado. Assim, seja bem-vindo a um endereço onde o medo até tem um CEP fácil, mas resta saber se você vai encontrá-lo ou não.

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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