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Sinopse
Depois de ser auxiliado por uma unidade de comando tático ultrassecreta, um agente da CIA tem que transportar um informante da Indonésia do centro da cidade para refúgio em um aeroporto a 22 milhas de distância.
Crítica
Mark Wahlberg é um amigo de fé, daquele que segue abraçado mesmo debaixo d’água – ou nas profundezas do inferno, como é o caso deste 22 Milhas. Após ter estrelado o bom O Grande Herói (2013), o irregular Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (2016) e o problemático O Dia do Atentado (2016), ele continua ao lado do diretor Peter Berg, mais uma vez aparecendo como protagonista na quarta produção dos dois. Como se percebe que a piora é progressiva, neste quesito o trabalho em conjunto mais recente não decepciona. E se antes aspirações como encontrar paralelos com eventos reais ou propor um debate a respeito de conflitos internacionais até chegava a ser vislumbrada, aqui a dupla descamba para o entretenimento mais raso, apostando no que imaginam fazer de melhor: tiros para todos os lados, corpos que vão se empilhando com o desenrolar dos minutos e uma trama rasa ao extremo, justamente para ninguém perder tempo com explicações desnecessárias. E neste esforço em busca do básico, tudo o que conseguem é um produto tão descartável quanto esquecível.
Se há uma presença digna de nota em 22 Milhas é a do astro indonésio Iko Uwais. Ex-jogador de futebol, Uwais aprendeu com o avô a técnica do silat, que é o termo genérico para designar as formas de artes marciais oriundas da Malásia. Descoberto pelo diretor Gareth Evans (que o dirigiu em Operação Invasão, 2011, e Operação Invasão 2, 2014), acabou fazendo uma ponta em Star Wars: O Despertar da Força (2015) e agora estreia de vez em Hollywood, pena que em um produto aquém do talento que demonstra em cena. Ele é Li Noor, um agente duplo que serve de informante para oficial Alice Kerr (Lauren Cohan, de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, 2016). Para entregar uma informação que pode evitar um atentado terrorista de gigantescas proporções, ele faz apenas uma exigência: asilo político nos Estados Unidos. Garantir sua segurança, portanto, será a missão do grupo de elite liderado por James Silva (Wahlberg).
Há pouco mais de uma década, Bruce Willis estrelou o competente, porém pouco visto, 16 Quadras (2006), no qual interpretava um policial que precisava transferir um ladrão de uma delegacia a outra, evitando que o bandido fosse resgatado por seus comparsas ou assassinado pelos inimigos que havia delatado. Naquele mesmo ano, Tom Cruise viu o vilão interpretado pelo saudoso Philip Seymour Hoffman escapar diante dos seus olhos em um dos desenlaces mais alucinantes de Missão: Impossível 3 (2006), justamente quando o transportava de um ponto de apoio a outro. Essa ideia, já explorada à exaustão por tantas outras produções do gênero, foi a escolhida por Berg e Wahlberg para este quarto projeto dos dois. O título, como se percebe, é a distância a ser percorrida durante o filme, e não serão poucos – e óbvios – os perigos que terão que enfrentar neste trajeto.
É também curioso – para não dizer risível – a tradução brasileira, que optou por manter o original 22 Milhas, mesmo que essa medida de comprimento não exista em nosso país. Pra piorar, as legendas adaptam o termo para quilômetro, sem se dar ao trabalho, no entanto, de fazer a conversão do numeral. Nos diálogos, ouvimos os personagens afirmar que precisam “percorrer 22 milhas”, enquanto que escrito aparece “percorrer 22 quilômetros”. Bom, se uma milha é igual a 1,6 km, o correto seria, ao invés de 22 milhas, apontar para 35,4 km. Um número, pelo jeito, que não é muito “cinematográfico”, ao menos para os padrões dos distribuidores nacionais. No entanto, se este fosse o único problema do filme, poderia ser facilmente desconsiderado. Mas há tanto barulho em cena para tão pouco que acontece, que a dor de cabeça gerada não compensa os esforços envolvidos, em ambos os lados da tela. E essa é a mais pura, simples e triste conclusão.
Berg e Wahlberg afirmaram, nas entrevistas de divulgação de 22 Milhas, que a ideia dos dois é que este seja o início de uma nova franquia – afinal, é assim que Hollywood funciona hoje em dia – como o capítulo primeiro de uma suposta trilogia. E o final realmente deixa tudo em aberto, pronto para uma continuação a ser feita a seguir. James Silva, o personagem de Wahlberg, no entanto, é tão irritante, que é difícil imaginar que alguém irá se importar com ele do mesmo modo como verificamos acontecer com James Bond, Ethan Hunt ou Jason Bourne, por exemplo, tipos donos de características muito próprias, que vão da eficiência no que fazem a um carisma quase palpável. Silva, por sua vez, é apenas perturbado – o tique que possui para “se acalmar”, que consiste em esticar um elástico que usa como pulseira ao redor do pulso, é empregado com tamanho exagero a ponto de mais distrair do que oferecer um perfil psicológico ao personagem. E se a reviravolta de última hora pegar alguém de surpresa, isso diz mais a respeito de quem assiste do que das reais intenções por trás dessa história que até ladra bastante, mas não chega a morder – ou sequer assustar – ninguém.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Roberto Cunha | 6 |
Thomas Boeira | 3 |
MÉDIA | 4.3 |
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