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Sinopse

Uma mulher casada ainda sonha com este músico, que se apresenta nas ruas, e que deixou passar há muito tempo a chance de ser feliz. Dois amigos decidem se embriagar pelo resto do dia. Um homem não sabe que seu irmão está apaixonado por outro homem. Uma mulher não está satisfeita com o que ganha. Duas irmãs brigam porque uma delas queria ser cantora. Dois velhos comem em silêncio. Deixe os personagens em repouso durante um dia inteiro. Coloque uma pitada de drama, e outra de comédia. Cozinhe em fogo baixo estes pedaços de vida tão semelhantes à nossa.

Crítica

As avós mundo afora afirmam com convicção que saco vazio não para em pé e fazem isso sempre acompanhado de comentários sobre a má alimentação dos netos. Mais que simplesmente manter nossos corpos em movimento, comida reúne, diverte e convida. No cinema, ela já se fez presente como tema central, como em A Festa de Babette (1987), de Gabriel Axel, e também como metáfora do desejo, em Como Água para Chocolate (1992), de Alfonso Arau. Na produção espanhola 18 Comidas, pratos, talheres e sabores são o pano de fundo para pequenas situações tragicômicas na cidade (e nas mesas) da cidade de Santiago de Compostela.

Ao todo, 18 Comidas apresenta vinte e quatro personagens. Parece um exagero e o sinal de que a produção será confusa ou, no mínimo, vai abordar de forma muito rasa cada pequeno universo. Contrariando tudo isso, o filme dirigido por Jorge Coira consegue um ritmo bacana, que vai acelerando conforme os espectadores vão se familiarizando com os ambientes e relações de cada história. Dividida em três partes, cada uma referente a uma refeição, o enredo tenta abranger todas as idades e suas relações com a comida. Entre as subtramas, há duas que se destacam pela alta carga dramática. Sol, uma dona de casa insatisfeita com seu casamento, convida um amigo, o músico de rua Edu, para almoçar com ela. O que começa como um reencontro de antigos apaixonados se torna uma troca de lembranças que faz aflorar os arrependimentos de cada um diante de suas vidas amorosas. Há uma preocupação de Sol em caprichar nos pratos e na decoração da mesa, ao mesmo tempo que é visível seu nervosismo e sua confusão de sentimentos. Dúvida e desejo dividem a cena com caranguejos e salada de atum.

Num outro momento, somos apresentados a um casal homossexual que se prepara para receber o irmão de um deles, o preconceituoso Juan, que não sabe da relação. Um verdadeiro baile de máscaras acontece, com uma mentira atrás da outra. O dilema: sustentar a farsa ou confessar a própria homossexualidade? Em ambas as histórias, a comida é coadjuvante, mas sem o cerimonial que envolve a refeição em conjunto, não haveria conflito. Há também uma historinha figurativa, na qual aparentemente nada acontece, mas que é repleta de ternura, quase um intervalo entre um drama e outro. Dois idosos fazem as refeições em uma cozinha cheia de copos e panelas repletos de histórias. Não sabemos seus nomes, nem se ainda se amam ou um dia se amaram. Eles apenas tomam café, almoçam e jantam juntos. Sem pressa, sem luxo, sem etiqueta de restaurante. Seus últimos momentos em cena fazem surgir sorrisos na plateia, seja por desejarem uma cumplicidade que não precisa de diálogo ou pela dúvida que vai nos acompanhar após os créditos finais.

A fotografia é muito semelhante em todas as histórias-refeições de 18 Comidas, com tons de sépia em abundância, remetendo aos prédios da cidade histórica onde tudo acontece. No fim das contas, todas as 24 pessoas acabam se relacionando, num entrecruzamento bem ao gosto das histórias múltiplas dos últimos tempos. Mundos diferentes se aproximam, novas parcerias surgem, romances acabam, outros nem chegam a dar o primeiro passo. Tudo bem amarrado num roteiro que, apesar de se dedicar pouco a momentos que poderiam render boas interações, consegue manter nosso olhar concentrado e estabelecer empatia pela maioria dos personagens. Ao ponto de esquecermos as delícias que os rodeiam.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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