Crítica


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Sinopse

Em um hospital em Brest, na França, um pneumologista estabelece uma ligação direta entre mortes suspeitas e o consumo de Mediator, um medicamento que está no mercado há 30 anos. Com ajuda da imprensa, e do apelo popular, parte em busca da vitória pela verdade.

Crítica

A atriz e cineasta francesa Emmanuelle Bercot já deixou clara a sua predileção por personagens femininas fortes. Após dois trabalhos tendo Catherine Deneuve como protagonista, Ela Vai (2013) e De Cabeça Erguida (2015), agora chegou a vez da talentosa Sidse Babett Knudsen protagonizar uma história dela. 150 Miligramas é livremente inspirado num livro-denúncia escrito pela médica Irène Frachon, que mostra a máfia dentro das indústrias farmacêuticas mais interessadas no lucro que na cura de doenças. A publicação, base para o roteiro, é um apanhado de dados sobre os malefícios de um medicamento chamado Mediator e como o fabricante estava ciente dos problemas que ele poderia causar em seus consumidores. Mas não espere do filme de Bercot um trabalho tipo bula de remédio.

Retratar a coragem de uma médica que deixou de lado família e carreira para correr atrás da punição de um laboratório ao qual quase todos os seus colegas de profissão tinham o rabo preso já seria um desafio. Há uma linha muito tênue entre a emoção e mau gosto em histórias que envolvem médicos e pacientes. No caso de 150 Miligramas, há preocupação em encontrar o equilíbrio entre dados e poesia. Já na cena de abertura percebe-se o olhar da diretora sobre sua personagem principal. Frachon (Sidse Babett Knudsen) aparece nadando em câmera lenta durante a apresentação dos créditos para, na cena seguinte, caminhar apressada pelo corredor de um hospital carregando uma câmera fotográfica. Eis que pela primeira vez somos surpreendidos por um lado da medicina pouco explorado na Sétima Arte. Um corpo sendo aberto e órgãos manipulados com naturalidade assustadora. Para a equipe médica, mais um procedimento de risco. Mas no olhar de Frachon percebemos sua preocupação. Há mais que um corpo ali, há um ser humano.

Sua sensibilidade com os pacientes, além de combustível de toda sua batalha para denunciar o medicamento que está matando centenas de pacientes na França, é também o que provoca empatia no espectador. A forma passional com que ela briga por informações e apoio dos colegas de hospital e o olhar de fera lançado aos empresários engravatados das indústrias farmacêuticas parecem até ficção, tantas são as notícias depreciativas sobre a classe médica que habitam nossos jornais. Óbvio que a atuação de Sidse Babett Knudsen colabora, com seus ataques de felicidade tão malucos quanto genuínos. Junto dela, Benoît Magimel, que interpreta o inseguro pesquisador Antoine Le Bihan, é parte da alma do filme, em mais um contraste proposto pela direção de Bercot. Mundo acadêmico e mundo real. Tão perto e tão longe.

A fotografia, que inicia solar apesar das poucas cenas externas, vai ganhando tons azulados conforme o embate entre Frachon e as empresas se acirra. No entanto, após a primeira hora de filme, há uma pequena vitória da protagonista, um sorriso em meio ao pânico que acarreta a chegada de novos personagens, como a estudante de farmácia Flore (Garance Mazureck) e o advogado novato (Pablo Pauly). É o momento em que 150 Miligramas perde um pouco do ritmo, por conta de um bocado de cenas dispensáveis ou, no mínimo, estendidas demais. Nada que atrapalhe o desenrolar do roteiro, mas há uma espécie de cansaço nas cenas finais que quebra um pouco a magia inicial. Talvez seja uma metáfora da estafa física e psicológica causada pela luta de Frachon, que não teve medo de ousar e nem ascendeu ao status de heroína após sua conquista. Ela continuou uma médica dedicada e passível de falhas e inseguranças. Como diz uma das melhores falas do filme, não há luta sem medo e ele atinge todos os rebeldes.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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Grade crítica

CríticoNota
Bianca Zasso
8
Leonardo Ribeiro
7
MÉDIA
7.5

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