Crítica


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Sinopse

Octopussy comanda um grupo de mulheres bonitas e fatais. Ela é a preferida de um ricaço que está ajudando um general russo descontente com a paz e quer provocar uma explosão atômica na Alemanha Ocidental. Talvez apenas o agente britânico mais famoso de todos possa resolver esse imbróglio.

Crítica

No início dos anos 1980, a série James Bond entrou em profunda crise. O contrato com Roger Moore já havia acabado, não se sabia quem assumiria o papel do protagonista e nem como manter o personagem atual frente a tantos novos heróis que surgiam nas telas naquela época, como Indiana Jones e Luke Skywalker. Foi neste período de indecisão que o cineasta John Glen assumiu o comando da franquia, ficando responsável por todos os cinco títulos oficiais lançados naquela década – uma quantidade de filmes maior do que qualquer outro diretor até hoje. No entanto, este envolvimento exagerado só exaltou suas carências enquanto realizador, entregando um longa atrás do outro cada vez mais problemático e decepcionante. 007 contra Octopussy talvez seja um dos piores dessa sequência.

Único projeto de toda a série até hoje a carregar o nome de uma personagem feminina no título, 007 contra Octopussy é equivocado do início ao fim. Pra começar, há um equívoco na denominação nacional: Octopussy (Maud Adams, retornando ao universo Bond com uma nova identidade após ter tido sua personagem assassinada em 007 contra o Homem com a Pistola de Ouro, 1974) é uma traficante internacional de joias que mora em um palácio habitado apenas por mulheres estonteantes na Índia. Mas ela não é má. O vilão mesmo é seu braço direito, Kamal (Louis Jordan, de Gigi, 1958). É ele que conduz as artimanhas típicas do gênero: quer dominar o mundo, explodir a todos e acabar com qualquer tipo de oposição. Seu plano: detonar uma bomba atômica em território americano e fazer com que esses fiquem com a culpa, obrigando a um desarmamento em massa na Europa e, assim, possibilitando que a então União Soviética dê continuidade ao seu plano de domínio global.

Moore, já velho para o papel – estava com 55 anos – foi convencido a retornar ao icônico personagem – que ele, no entanto, faria ainda mais uma vez, em 007 Na Mira dos Assassinos (1985) – motivado por um duelo histórico. É que no mesmo ano um estúdio concorrente conseguiu os direitos de 007: Nunca Mais Outra Vez (1983), uma refilmagem feita às pressas e não oficial de 007 contra a Chantagem Atômica (1965). Para tanto, conseguiram que Sean Connery – o mais popular de todos os intérpretes do agente secreto inglês – o vivesse mais uma vez, doze anos após 007: Os Diamantes são Eternos (1971). Gerou-se muita expectativa a respeito de qual dos dois longas, lançados com um intervalo de apenas quatro meses, faria mais sucesso. E o resultado, inesperadamente, foi que 007 contra Octopussy acabou na frente, confirmando-se como o sexto título de maior bilheteria de 1983 (007: Nunca Mais Outra Vez terminou a temporada na 14° posição).

Mas Octopussy convence a ponto de merecer o sucesso recebido? Absolutamente, não. Pra começar, tem-se um dos antagonistas mais fracos da série. Maud Adams e Kristina Wayborn são duas Bond girls sem o menor sex appeal, e dificilmente ficariam bem colocadas em uma lista com as mais marcantes que já foram parar na cama do herói. A dificuldade do diretor entre fazer deste um filme de ação ou uma comédia satírica é evidente. Este sentimento fica claro nas fracas cenas de luta e nos absurdos que, apesar de característicos, surgem como um pastiche descabido – Bond perseguindo um avião a cavalo ou um trem com um carro ajustado aos trilhos são apenas alguns dos tantos exemplos. Isso sem mencionarmos os equivocados efeitos sonoros – como Bond pendurado em um cipó ao mesmo tempo em que se ouve o grito de Tarzan (!) – que abusam das onomatopeias e dos tons cômicos, revelando uma indecisão que mais incomoda do que convence.

Ainda analisando os lançamentos de 1983, tem-se um certo alívio ao perceber que 007 contra Octopussy se saiu melhor nas bilheterias do que Superman 3, mas quando colocado ao lado de Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (o campeão do ano) percebe-se o quão mal o filme envelheceu com o passar das décadas, ainda mais após Pierce Brosnan e, principalmente, Daniel Craig darem um novo formato às aventuras do personagem criado por Ian Fleming no início dos anos 1950. Tedioso, com uma edição truncada, que se perde em passagens desnecessárias apenas para explorar o lado ‘exótico’ da trama e colocando o protagonista em posições constrangedoras – pedindo carona em uma estrada abandonada e sendo enganado por adolescentes (!!) ou disfarçado de gorila, palhaço ou jacaré (!!!) – fazem deste um filme cansativo (são mais de 130 minutos) e pouco emocionante. Uma bobagem que se mantém apenas como uma curiosidade histórica, felizmente suplantada pelas produções que mais de uma década depois recolocariam  Bond, James Bond de volta aos eixos!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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