FESTIVAL DE GRAMADO (17 a 25 de agosto) – Júri oficial
Guaxuma é o nome da cidade na qual a cineasta Nara Normande passou sua infância. O curta-metragem homônimo se apresenta como uma belíssima rememoração repleta de saudade e melancolia. Alternando diversas técnicas de animação, o filme apresenta personagens feitos de areia, ora como bonecos, ora na condição semelhante a das esculturas de praia, ora como se fossem feitos de grânulos. A metáfora é evidente, pois tudo que é de areia alude ao transitório, poroso, passível de ser desfeito pelas vicissitudes, assim como as lembranças. Com o suporte de fotografias da meninice, Nara demonstra particular apego à recordação de Taira, sua melhor amiga, aquela com quem dividiu momentos-chave. Até a explanação da fatalidade que levou a companheira embora é feita de forma terna, com o auxilio de origamis que simbolizam a morte. É possível, também, fazer uma leitura da conjuntura familiar a partir da situação política brasileira no período, já que a realizadora menciona festas em sua residência com gente que veio de todo o Brasil – levando em consideração o isolamento de Guaxuma, à beira-mar, é fácil chegar à conclusão de que aquelas pessoas discordavam do regime ditatorial em vigência no país. Além disso, há a representação do pai dormindo com um livro sobre Cuba repousando em seu corpo. Embora não seja tão imprescindível, essa observação política confere uma camada sensível à percepção das rememorações de Nara, que se dão entre a fugacidade das construções arenosas, entre elas as humanas, e a concretude da nostalgia.
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