Quando se poderia imaginar que um longa dirigido por Clint Eastwood iria terminar numa lista de piores do ano? Bom, diante de 15h17: Trem para Paris, prever que algo assim acabaria acontecendo é até um tanto óbvio. Pois o cineasta vencedor de quatro Oscars por Os Imperdoáveis (1992) e Menina de Ouro (2004) se inspirou em um episódio real para narrar a história de três americanos que, mais por sorte que técnica ou conhecimento, acabam impedindo um ataque terrorista na Europa. O que Eastwood deixa claro na condução de sua trama é uma total falta de distanciamento, aplaudindo seus protagonistas o tempo inteiro como se fossem verdadeiros heróis, e não uns garotos inconsequentes que, por força do destino, acabaram fazendo a coisa certa no pior momento possível. Para deixar as coisas ainda mais ruins, ele chamou os próprios protagonistas para interpretarem a si mesmos em cena, e o resultado, como seria de se esperar, é, no mínimo, constrangedor. Há muito tempo não se via um conjunto de atuações tão medíocres. No entanto, o patriotismo exagerado é o verdadeiro grande problema, pois não há um olhar crítico sobre o ocorrido, com o cineasta procurando sempre oferecer um elogio forjado, mesmo diante de tantas possibilidades de se olhar para o evento em questão por outros prismas. Um desperdício, portanto, justamente de um dos maiores cineastas hollywoodianos ainda em atividade. O que torna tudo ainda pior, é claro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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