Ninguém mais aguenta filmes de horror em que adolescentes imprudentes sofrem as consequências de evocar espíritos numa brincadeira imbecil. Slender Man: Pesadelo sem Rosto consegue aumentar o ranço a esse tipo de produção cujo mote já deu o que tinha de dar. O longa-metragem é baseado numa lenda urbana surgida na internet. A trama começa com meninas indo aonde os meninos (prudentes, embora zueiros) não se atreveram a ir, ou seja, contatando a figura conhecida como Slender Man. O diretor Sylvain White é incapaz de criar um momento sequer de tensão. Tudo aparece de maneira tão banal na telona que não há boa vontade suficiente para nos fazer criar empatia pelas personagens (sem um pingo de profundidade), menos carismáticas que a criatura gerada em computação gráfica de uma forma tão anódina que chega a ser risível. A fotografia demasiadamente escura não comporta um embate entre luz e sombra, lavando tudo numa penumbra com jeito de artifício para maquiar determinadas inconsistências da construção visual pífia. Um filme de horror que hesita entre mostrar e esconder o mostro, assim não utilizando as supostamente macabras aparições como algo a potencializar a apreensão. Roteiro ruim, repleto de conveniências, como a interlocutora explicativa, jump scares destituídos de força e Slender Man: Pesadelo sem Rosto caminha inapelavelmente para um lugar de irrelevância, onde mora o enfado e a sensação angustiante de que nunca mais teremos aqueles 104 minutos de volta.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.